segunda-feira, 24 de setembro de 2012

GRANDES MESTRES - Paul Gauguin

Biografia 
Em busca do paraíso e de si próprio

Paul Gauguin (1848-1903)

Até completar 35 anos de idade, o parisiense Eugène-Henri-Paul Gauguin era um bem-sucedido investidor da Bolsa de Valores na França. Não lhe faltava nada. Tinha mulher, um bom dinheiro, uma casa ampla e cinco filhos. Pintava nos finais de semana, apenas por hobby. Mas, em 1883, ficou desempregado e resolveu que, a partir dali, iria viver das telas e pincéis. "Enfim, posso pintar todos os dias", comemorou.

A amizade com um artista mais velho, Camille Pissarro, foi determinante para tal decisão. Pissarro tinha uma história de vida cheia de peripécias: nascido na ilha de São Tomás, nas Caraíbas, deixou os negócios da família para viajar para a América do Sul, antes de chegar a Paris e passar a dedicar-se exclusivamente à carreira artística. Foi ele quem sugeriu a Gauguin que um artista de verdade não podia se resumir a pintar nos domingos e feriados. Em 1883 Gauguin perdeu seu emprego em função da quebra da bolsa de Paris e achou que era chegada a hora de optar pela arte.

A reviravolta exigiu um preço alto demais. Um ano depois, Gauguin não havia conseguido vender um número suficiente de quadros para pagar as contas domésticas, que se acumulavam. Quando as economias acabaram, viu-se obrigado a mudar para Copenhague, na Dinamarca, onde o custo de vida era mais baixo e podia morar com a família da esposa, Mette Sophie Gad. Mas o casamento não resiste a essas mudanças. Em 1885, Gauguin voltou a Paris falido. Morou em um quarto miserável de pensão e quase morreu de fome.

Após dois anos de dificuldades, conseguiu dinheiro para comprar uma passagem de navio para a América Central e foi trabalhar, como operário, na construção do Canal do Panamá, com a intenção de entrar em contato com outras culturas. De lá seguiu para a Martinica. Quando, no final de 1887, retornou à França, tinha pintado dezenas de quadros, nos quais renegava o impressionismo e buscava a "pureza" da arte primitiva. Mas pegou malária e ficou ainda mais pobre do que quando partira.

Fabricou cerâmica para sobreviver e vendia esporadicamente seus quadros contando com a cooperação de Theo, irmão de van Gogh, que era marchand. Morou com o colega Van Gogh em Arles e, em 1891, quando começava a desfrutar de relativo prestígio na comunidade artística de Paris, jogou novamente tudo para o alto. Foi morar numa cabana em uma aldeia no Taiti, nas Polinésias Francesas, onde casou com uma nativa e pintou uma grande quantidade de obras influenciadas pela paisagem e pelas cores locais. "Espero cultivar a minha arte em estado primitivo e selvagem", escreveu.

Em 1888 Gauguin vai para a Bretanha, onde já havia estado em 1886, entra em contato com a cultura camponesa e com uma comunidade de artista, entre eles, Émile Bernard. A passagem pela Bretanha é determinante para a sua obra.

Voltaria à Europa mais uma vez, em 1893, quando recebeu uma herança deixada por um tio. Com o dinheiro, organizou uma exposição de seus quadros taitianos, prontamente bombardeados pelos críticos, que recriminaram-lhe as "cores exageradas" e "irreais". Desiludido, Gauguin abandonou a França de uma vez por todas. Retornou ao Taiti em 1895, onde continuou a enfrentar problemas financeiros e a sofrer os efeitos de outra doença: a sífilis.

Pobre e enfermo, teve atritos com as autoridades locais por causa das críticas que fazia à administração colonial e à catequização dos nativos. Em 1897, ficou novamente sem dinheiro para se manter e para comprar os remédios de que necessitava. Deprimido, chegou a tentar o suicídio com arsênico, logo depois de receber a notícia da morte da filha, Aline, e de pintar sua obra mais monumental, a tela "De onde viemos? O que somos? Para onde vamos?", medindo 1,39m por 3,75m. Quando recuperou-se, escreveu: "Eu queria morrer. E pintei este quadro de um golpe só".

Mudou-se então, em 1901, para um local ainda mais isolado, nas ilhas Marquesas, também na Polinésia Francesa, para onde os amigos de Paris enviavam-lhe apoio financeiro. Mas Paul Gauguin continuou a criticar o regime colonial e a fazer inimigos entre os catequistas da Igreja Católica. Em represália, as autoridades locais o colocaram na cadeia, sob a acusação de "difamação" e "desacato".

Gauguin foi condenado a três meses de prisão. Já muito doente, procurou se defender da acusação, mas foi encontrado morto no dia 8 de maio de 1903.

Curiosidades

•    Avó feminista:Paul Gauguin era neto, por parte de mãe, de Flora Tristán, uma das precursoras do movimento feminista, autora de livretos que pregavam a emancipação da mulher e o divórcio. Flora, nascida em Paris em 1803, era filha de um general peruano. Casou-se aos 18 anos, separou-se cinco anos mais tarde e quase foi morta pelo ex-marido, condenado a 20 anos de trabalhos forçados pela tentativa de homicídio. Flora teve três filhos, entre eles uma menina de nome Aline, que viria a ser a mãe de Gauguin.

•    Infância no Peru:Quando Paul Gauguin nasceu, a França passava por grande turbulência política. Em 1851, Carlos Luís Napoleão, sobrinho de Napoleão Bonaparte, articulou um golpe de estado e restaurou o Império. O pai de Paul, Clóvis Gauguin, tinha colaborado em publicações republicanas e, temendo retaliações, decidiu deixar o país. Partiu rumo ao Peru, onde a mulher, Aline, tinha família influente. Mas, durante a viagem, Clóvis morreu após sofrer um ataque cardíaco. Aline prosseguiu a travessia do Atlântico e levou os dois filhos para Lima, onde Paul Gauguin viveu os primeiros anos de vida.

•    Gauguin no Brasil:Em 1855, a mãe de Paul Gauguin decidiu retornar a França. A família fixou-se em Orleans (a cerca de 120 km de Paris), onde Gauguin iniciou seus estudos no liceu local. Ao completar 17 anos, o jovem alistou-se na marinha francesa. Antes de entrar para a marinha de guerra, trabalhou durante três anos como cadete em um navio mercante que, entre outros portos, ancorou em Salvador e no Rio de Janeiro.

•    Entre a bolsa e a arte:Paul Gauguin entrou para o mundo dos negócios pelas mãos de seu tutor, o banqueiro Gustave Arosa, que além de grande capitalista era também colecionador de obras de arte. Foi Arosa quem conseguiu para Gauguin o emprego na Bolsa de Valores em Paris, na firma de Monsieur Bertin, famoso corretor de valores na capital francesa. Mas foi Gustave Arosa também quem o aproximou da obra de Pissarro, o artista que viria a aconselhar Gauguin a trocar o mercado financeiro pelos pincéis.

•    Gauguin e van Gogh:Em 1888, depois de retornar da Martinica, Paul Gauguin aceitou o convite de Vincent van Gogh para dividir com ele uma casa em Arles, no sul da França. Van Gogh pretendia estabelecer no local um ateliê coletivo e uma comunidade de artistas. Mas os dois acabariam por se desentender. Em meio a um de seus muitos colapsos nervosos, van Gogh ameaçou o amigo com uma navalha, mas acaba cortando um pedaço da própria orelha e em seguida dá de presente a uma prostituta. Assustado, Paul Gauguin decidiu retornar a Paris.

•    Telas improvisadas:No Taiti, por causa da distância geográfica em relação aos grandes centros e da falta de dinheiro, Paul Gauguin tinha dificuldade de encontrar material para trabalhar em seus quadros. Muitas vezes, recorreu a panos de sacos para improvisar telas e, assim, continuar pintando.

•    Noa Noa:Gauguin escreveu um livro sobre o Taiti. Em Noa Noa, registrou o que significava para ele - e para sua arte - a vida a milhares de quilômetros de distância da civilização. "Eu escapei de tudo que é artificial e convencional. Aqui, eu entrei no processo da verdade pura para me tornar um indivíduo unificado com a natureza".

•    Nas telas do cinema:Gauguin - Um lobo atrás da porta, de Henning Carlsen, Dinamarca, 1986. Rumo ao Paraíso, de Mario Andrecchio, Austrália, 2003. O artista no primeiro filme é interpretado por Donald Sutherland e no segundo filme por Kiefer Sutherland, seu filho.

Contexto histórico - Contra a civilização

Quando ainda era um próspero negociante da Bolsa de Valores em Paris, Paul Gauguin adquiriu várias obras de pintores impressionistas, a exemplo de Manet, Monet e Renoir, artistas que ainda provocavam escândalo por causa da ousadia de suas telas em relação à pintura acadêmica e tradicional. Gauguin chegou a incluir alguns de seus próprios trabalhos nas últimas exposições impressionistas, embora nunca tenha se filiado oficialmente ao grupo.

Sua intenção era outra, buscava se distanciar da representação da realidade observada, percebida, ao invés de se colocar diante da natureza para executar suas pinturas, pintava de memória, atribuindo significados simbólicos aos elementos de sua pintura e a maneira como se utilizava das cores, abriu precedentes para estilos posteriores. Como ele mesmo escreveria, uma obra de arte deveria refletir "sentimentos intensos que se manifestam nas profundezas do ser e irrompem feito lavas de um vulcão". Daí seu nome ser situado, junto com os de Vincent van Gogh e Paul Cezánne, naquele período de transição que se convencionou chamar de pós-impressionismo - e que viria a antecipar alguns pressupostos do expressionismo, estilo marcado pela dramaticidade dos traços e das cores.

A vida agitada de Paul Gauguin, recheada de reviravoltas e de viagens a lugares distantes, é reflexo de sua busca pessoal por uma arte que não se conformasse com os cânones da tradicional estética européia. Assim como suas telas absorveram a influência dos muitos anos vividos nos mares do sul, ele também pesquisou com afinco as esculturas egípcia e cambojana, além das gravuras japonesas.

No instante em que a Europa passava pela Revolução Industrial, muitos artistas voltavam os olhos para outros mundos, ditos mais "primitivos", à procura de inspiração em lugares ainda não contaminados pela "civilização". Algo parecido já havia sido proposto pelos românticos, embora estes tenham disseminado uma visão idealizada dos povos dos trópicos, particularmente os indígenas do Novo Mundo.

Mas ninguém ousou, como Paul Gauguin, levar ao extremo a busca por uma suposta essência primeira da arte, que ele julgava perdida para sempre no mundo europeu. No "paraíso" tropical polinésio, constatou que boa parte do desenvolvimento econômico do chamado "mundo civilizado" era proveniente da exploração colonial. Denunciar essa situação de injustiça histórica seria a última missão de sua vida.

Sites relacionados

•    Masp - Link para o auto-retrato de Paul Gauguin, no site do Museu de Arte de São Paulo, que possui a obra em seu acervo. Em português.
•    WebMuseum - Museu virtual, com informações biográficas e reprodução de quadros do artista. Em inglês.
•    Expo-shop.com - Site com biografia, relação de exposições permanentes, e-cards e produtos sobre a obra de Paul Gauguin. Em inglês.
•    Cultura e pensamento - Informações biográficas de Paul Gauguin e comentários sobre sua obra. Em português.
•    Tahiti - Site sobre a Polinésia Francesa, com informações sobre a vida e obra de Paul Gauguin. Em francês.
•    Website Van Gogh & Gauguin - O site é do Museu van Gogh de Amsterdam e fala da relação entre os dois , mostra os quadros produzidos neste período, correspondências e críticas.

Principais obras

•    1. O Cristo Amarelo (1888) - A arbitrariedade no uso das cores (o Cristo é amarelo, a copa das árvores é vermelha) renega o realismo. O rosto de Cristo tem sua fisionomia.


•    2. Jovem taitiana com uma flor (1891) - Um dos primeiros quadros pintados por Gauguin no Taiti.


•    3. Duas mulheres na praia (1891) - A vida simples dos nativos taitianos, em um dos quadros mais famosos desta fase do artista.



•    4. De onde viemos? O que somos? Para onde vamos? (1897) - O quadro que pintou após receber a notícia da morte da filha e antes de tentar suicidar-se.


•    5. Jovens taitianas com flores de manga (1889) - Os seios desnudos de duas jovens do Taiti mostram o lirismo e a inocência do paraíso polinésio.

 Imagens: 7 das artes
Texto Grandes Mestres

GRANDES MESTRES - Salvador Dalí

Biografia 
 "Sou um monstro de inteligência"


 - Salvador Dalí (1904-1989) -

      Ele dizia que seus quadros eram "fotografias de sonhos pintadas à mão". Frasista inspirado, dono de uma verve irresistível, Salvador Dalí era um homem excêntrico, dado a surtos de exibicionismo e megalomania, o que ajudou a criar em torno de sim uma aura mítica de ousadia e loucura.

       "As duas coisas mais felizes que podem acontecer a um pintor contemporâneo são: primeiro, ser espanhol, e segundo, chamar-se Dalí. Ambas me aconteceram", dizia, com sua insuperável capacidade para o marketing pessoal. "Todas as manhãs eu experimento uma delicada alegria - a alegria de ser Salvador Dalí - e me pergunto, em êxtase, que coisas maravilhosas esse Salvador Dalí vai realizar hoje?"

      Nascido na cidade catalã de Figueres, na Espanha, começou a pintar por volta dos 13 anos, época em que seu pai organizou uma exposição familiar com seus desenhos a carvão. Cinco anos depois, em 1922, Salvador Dalí mudou-se para Madri, onde ingressou na Academia de San Francisco e conheceu o poeta Federico Garcia Lorca e o futuro cineasta Luis Buñuel. Com o primeiro, teria um caso de amor platônico.

     Com o segundo, viria a fazer os filmes surrealistas Um Cão Andaluz (1929) e A Idade do Ouro (1930). "Sou um monstro de inteligência", gabava-se.

      Foi no mesmo ano das filmagens de Um Cão Andaluz que passou a morar com a russa Elena Dimitrievna Diakonova, dez anos mais velha do que ele e então casada com o poeta francês Paul Eluard. Diakonova, apelidada de Gala, ficará com Dalí até o último dia de sua vida. "Ela curou-me de todas as minhas angústias. Gala é a curandeira dos terrores", definia o artista, que jurava ser virgem até conhecer sua eterna musa.

       A ruptura oficial com os surrealistas foi barulhenta. Salvador Dalí foi expulso das hostes do movimento pelo líder André Breton, que passara a defender a doutrina marxista. Dalí, acusado de compactuar com o fascismo, se disse um "anarco-monarquista" e desdenhou da expulsão: "O surrealismo sou eu".

       No início da Segunda Guerra, em 1940, Dalí e Gala mudaram-se para os Estados Unidos, onde o artista colaborou com Alfred Hitchcock em uma seqüência do filme Spellbound (Quando fala o coração). O casal permaneceu nos EUA até 1955. Quando retornou a Espanha, Salvador Dalí declarou apoio ao ditador Francisco Franco. "Sou favorável aos períodos de inquisição. Quanto mais opressões, mais se é levado a precisar o que se deve dizer. Sim à repressão das liberdades", declarou.

       A partir de 1982, com a morte de Gala, Salvador Dalí tornou-se um homem recluso, abatido pelo Mal de Parkinson. Deprimido pela ausência da mulher, recusou-se a comer e passou a ser alimentado por uma sonda nasal, com a qual posou para a capa da revista americana Vanity Fair.

       Dalí viveria até 1989. Porém, os críticos mais rigorosos afirmavam que sua arte já morrera muito tempo antes dele, ainda ao final da primeira fase surrealista, na distante década de 1930. Depois disso, passara a viver apenas do escândalo e da polêmica em torno de seu comportamento pouco ortodoxo.

Curiosidades

•    Expulsão da academia:Na Escola de Belas Artes de Madri, Salvador Dalí ficou famoso por sua auto-suficiência. Em junho de 1926, recusou-se a fazer as provas da disciplina de Teoria das Belas Artes, por achar que nenhum professor tinha competência suficiente para julgar seu trabalho. Em represália, o conselho disciplinar da instituição decidiu pela expulsão do aluno rebelde.

•    Extravagâncias:Dalí adorava chocar o público com suas declarações e aparições inusitadas. Em 1936, na abertura de uma exposição surrealista em Londres, apareceu vestido em trajes de mergulho. De outra feita, fez uma conferência com um pedaço de pão sobre a cabeça. Ainda nos tempos da Academia em Madrid, quando um professor propôs à classe uma estatueta da Virgem Maria como modelo para uma aula de pintura e desenho, Dalí pintou uma balança.

•    Memórias precoces:Dalí escreveu suas memórias, o livro "A vida Secreta de Salvador Dalí", aos 37 anos. "Normalmente os escritores começam a escrever suas memórias depois de viver sua vida, mas, com meu vício de fazer tudo diferentemente dos demais, achei que era mais inteligente começar escrevendo minhas memórias e vivê-las depois", explicou.

•    Um Dalí roubado no Rio:Em fevereiro do ano passado, às vésperas do Carnaval, quatro homens armados invadiram o museu Chácara do Céu, no bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro, e roubaram uma série de telas de artistas famosos, incluindo o quadro "Os Dois Balcões", pintado por Salvador Dalí em 1929. Dias depois, a polícia encontrou pedaços de moldura queimados em um morro carioca. Mais de um ano depois, os quadros ainda não foram localizados.

•    Dalí no cinema:Em janeiro deste ano, anunciou-se em Hollywood que o ator Al Pacino encarnará, em breve, Salvador Dalí nas telas do cinema. O filme promoverá o reencontro de Pacino com o roteirista e diretor Andrew Niccol, com quem já trabalhou em "Simone", de 2002. As filmagens devem começar em junho. "Dalí & I: The Surreal Story" se concentrará no período da maturidade do artista.

Contexto histórico - Em busca da "paranóia crítica"

      Salvador Dalí definiu seu processo criativo como "crítico-paranóico". Tal método consistiria em permitir-se um estado mental semelhante ao da paranóia clínica, no qual a vontade e a razão eram suspensas temporariamente, de modo deliberado pelo artista. Dalí empregava uma técnica apurada, de grande virtuosismo, mas a serviço de um simbolismo alucinado, proveniente do mundo dos sonhos e do inconsciente.

       Com seu comportamento extravagante, Salvador Dalí tornou-se o mais célebre dos representantes do movimento surrealista, vanguarda estética surgida na França no período entre-guerras. Os surrealistas defendiam o chamado "automatismo", o fluxo livre de associações de idéias, ditadas diretamente do inconsciente, sem qualquer tipo de controle racional ou censura moral.

       O surrealismo representava a face positiva do dadaísmo, movimento iconoclasta fundado em 1915 por um grupo de jovens artistas, entre os quais despontava a figura do escritor romeno Tristán Tzara. Assim como os surrealistas, os dadaístas também valorizavam o não-racional e o absurdo. Mas, em seus manifestos, prevalecia a ironia e o niilismo radical. Para o dadaísmo, tratava-se de implodir, pelo escândalo e pelo gracejo, o próprio conceito de arte.

       O poeta André Breton, principal líder e teórico do surrealismo, pregava a necessidade de resolver, de forma positiva, a contradição entre sonho e realidade, entre imaginação e consciência. Buscava, assim, alcançar uma suposta nova dimensão, a supra-realidade.

     As diferenças de concepção entre os adeptos do movimento surrealista – além das discordâncias de  natureza política – acabaram antagonizando muitos de seus principais membros, inclusive André Breton e Salvador Dalí. "A diferença entre os surrealistas e eu é que, na verdade, eu sou surrealista", sentenciava o sempre provocativo Dalí.

Sites relacionados

•    Fundação Gala-Dalí– Site oficial da entidade, localizada na Espanha. Traz textos, imagens e até filmes sobre o artista. Em espanhol, francês e inglês.

•    Museu Dalí – Situado na Flórida, nos Estados Unidos, o museu tem uma importante coleção de obras de Salvador Dalí. Em inglês.

•    ArtCyclopedia – Relação e localização das principais obras de Dalí, em museus e galerias espalhadas pelo mundo. Em inglês.

•    Folha Online – Veja tudo o que já publicado sobre Salvador Dalí na Folha Online.

•    BBC – Ouça trechos de uma entrevista de Salvador Dalí à emissora britânica.

Principais obras

1. A Persistência da Memória (1931) – Um dos quadros mais reproduzidos de Dalí, com seus relógios maleáveis, como se fossem feitos de cera derretida.






2. Girafa em chamas (1937) – No quadro, há a presença de imagens recorrentes de Dalí: uma girafa flamejante e o corpo humano com gavetas entreabertas.




3. Sono (1937) – O sono e o sonho foram temas caros aos surrealistas e, por extensão, a Salvador Dalí, que o representou nesta obra como um rosto humano amolecido, sustentado por muletas.



4. A Crucificação de São João da Cruz (1951) – Obra representativa do período em que o artista passou a pintar motivos religiosos, após sua ida aos Estados Unidos.









5. A Última Ceia (1955) – Versão surrealista do quadro clássico de Leonardo da Vinci.





6. Crucificação  -Óleo sobre tela, 194,30 x 123,80 cm -Metropolitan Museum of Art, New York





7. Contemporâneo - Os Simpsons Dali





 

Fontes:

 Imagens: 7 das artes
Texto Grandes Mestres

Imagens:

 http://praelitteras.blogspot.com.br/2012/07/plurissignificacao-em-franz-kafka-e.html
  http://origin-symbol.blogspot.com.br/2011/07/cristo-de-sao-joao-da-cruz.html

Especial "Las meninas"

Esses dias em uma pesquisa encontrei na net uma linha do tempo com base na obra "las Meninas" de Velasquez. Achei muito interessante, vi que varios artistas fizeram releituras.

Pra quem não conhece, essa é a obra base:



"As Meninas"  - pintado em 1656 pelo espanhol Diego Velasquez, com a infanta Margarida, filha de Felipe IV.  Museu do Prado, Madrid.



Algumas releituras...


"As Meninas"-   Pablo Picasso, 1957

 


"As Meninas" -  Joel Peter Witkin, 1987



"El recinte" - Manolo Valdés & Rafael Solves (Equipo Cronica),  1971




 "As Meninas" - Marcos Anthony  - 2008 




  "As Meninas -  Vik Muniz - Pinturas com Chocolate, 2002 



 As Meninas de Ziraldo, 2010




  Fotografia de Manuel



  "D’après Las Meninas" - Cristobal Toral, 1975



  "As Meninas" - Sophie Matisse, 2001


 " Las Meninas" - Bob Kessel, 2009 

FONTES:

http://tecnoartenews.com/esteticas-tecnologicas/artistas-que-criaram-obras-inspiradas-em-las-menina-de-diego-velazquez/

http://olhares.uol.com.br/as-meninas-de-velasquez-foto2876615.html (fotografia de Manuel)

http://www.marcosanthony.com

http://www.vikmuniz.net/

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

GRANDES MESTRES - Wassily Kandinsky

Biografia
O arauto da arte abstrata

 - Wassily Kandinsky (1866-1944) - 

     Wassily Kandinsky poderia ter sido apenas um obscuro professor de direito na velha Rússia czarista, se não houvesse decidido, certa manhã, conferir uma exposição de pintores impressionistas franceses em Moscou. A visão de um monte de feno, pintado por Monet, provocou nele um entusiasmo incomum.

      Numa época em que os críticos mais tradicionais torciam o nariz e consideravam os quadros impressionistas meros borrões de tinta sobre a tela, Kandinsky ficou deslumbrado. Segundo ele próprio contaria mais tarde, foi ali que percebeu, pela primeira vez, que a obra de arte não precisava se resumir a imitar a natureza. Estava plantada a semente da arte abstrata, forma de expressão que teria em Kandinsky um pioneiro e um de seus mais ardorosos teóricos.

      Nascido em Moscou, no ano de 1866, Kandinsky não abraçou o abstracionismo da noite para o dia. Foi necessário todo um processo de evolução pictórica, até alcançar gradativamente a completa abolição da figura em sua obra.

      Ainda sob o efeito da exposição impressionista, decidiu recusar o cargo de assistente na faculdade de direito em uma universidade russa e, em 1896, aos 30 anos, mudou-se para Munique, na Alemanha, com o firme propósito de dedicar-se ao estudo da arte. Antes de partir, casou com uma prima, Anya Ticheyeva, que levou junto com ele.

      Mas as aulas ministradas pelos professores na Alemanha, ainda presos ao realismo e ao academicismo, não o satisfizeram. Aproximou-se então de artistas mais jovens, como Paul Klee, e passou a desenvolver sua própria teoria estética, pregando a libertação da arte da reprodução subserviente da natureza.

      Seus primeiros quadros europeus, é verdade, ainda mostravam nítidas influências impressionistas. Exibiam figuras humanas, objetos naturais e evocavam elementos da arte popular russa. Aos poucos, porém, os contornos se fizeram mais imprecisos, os rostos perderam definição e, cada vez mais, as formas tornaram-se apenas vagas referências de algo existente no mundo real. "Enquanto a arte não dispensar o objeto, ela será meramente descritiva", sentenciou Kandinsky.

      Casado pela segunda vez, com uma artista alemã, Gabriele Muenter, Kandinsky decidiu voltar à Rússia em 1914. Três anos depois, em 1917, trocou Gabriele por uma jovem russa, Nina von Andreyewsky, com quem ficará até o fim da vida. Naquele mesmo ano, eclodiu a revolução socialista, liderada por Lênin. Respeitado pelos intelectuais revolucionários, o artista foi convidado a fazer parte do Comissariado para a Educação e a dar aulas em academias estatais, mantidas pelo novo regime.

      Mas a pintura de Wassily Kandinsky era abertamente incompatível com o "realismo socialista", estilo imposto aos artistas russos após a Revolução. Classificado pelos ideólogos soviéticos como um representante da "arte burguesa e decadente", Kandinsky viu-se obrigado a deixar novamente o seu país natal, retornando em 1921 à Alemanha, onde assumiu o cargo de professor da Bauhaus, famosa e inovadora escola de arquitetura e artes aplicadas.

      Em 1933, com a chegada de Hitler ao poder, a alemã Bauhaus foi fechada. Kandinsky, que já fora criticado e defenestrado pelos soviéticos, passou a ser rotulado pelos nazistas como um "cancro da bolchevização da arte". Não lhe restava outra alternativa a não ser providenciar uma nova e imediata transferência, agora para Paris.

      Sete anos mais tarde, quando os nazistas invadiram a França, Wassily Kandinsky estava velho demais para empreender mais outra mudança. Septuagenário, cuidou de diminuir o ritmo de sua produção e passou a viver de forma discreta e reservada.

      Kandinsky morreu em 1944, aos 78 anos. Passado o obscurantismo nazista, seu nome foi aclamado, na Alemanha e em toda a Europa, como o mestre que inaugurou o abstracionismo, uma das maiores revoluções de todos os tempos na história da arte.

Curiosidades

•    De cabeça para baixo:Kandinsky costumava dizer que passou a compreender de forma mais decisiva o poder da arte abstrata quando, certa noite, ao entrar em seu ateliê, não conseguiu reconhecer um de seus próprios trabalhos, que estava de cabeça para baixo.

•    Coisa de louco:As primeiras reações da crítica à obra abstracionista de Kandinsky foi de absoluta surpresa e rejeição. Muitos consideraram que aquele amontoado de linhas, cores e formas sem significado era obra de um doido varrido. Ou, na melhor das hipóteses, de alguém que manejara tintas e pincéis sob os efeitos de algum alucinógeno, como o haxixe.

•    Teoria e prática:Kandinsky, além de artista, era também um teórico. Escreveu alguns livros para defender suas idéias a respeito do abstracionismo. Entre suas obras principais destacam-se "Do Espiritual na Arte", publicado em 1912, e "Ponto e Linha sobre o Plano", editado na forma de apostila pela Bauhaus.

•    Cidadão do mundo:Kandinsky mudou de nacionalidade duas vezes. Inicialmente, após deixar a Rússia e fixar-se em Munique, solicitou cidadania alemã. Mais tarde, com a ascensão dos nazistas ao poder, refugiou-se em Paris e, mais uma vez, trocou oficialmente de nacionalidade, tornando-se cidadão francês.

•    Ao lado de Freud e Einstein:O abstracionismo de Kandinsky representou uma ruptura tão radical em relação à arte figurativa tradicional que, hoje, muitos críticos e historiadores da cultura costumam colocá-lo em um honroso panteão de grandes pensadores e cientistas da história da humanidade: ele estaria, para a pintura, no mesmo grau de importância que Freud tem para a psicologia e Einstein para a física.

Contexto histórico - Em busca do traço puro

       O abstracionismo, inaugurado por Kandinsky por volta de 1910, tem como pressuposto básico a realização de uma arte independente do mundo externo e da realidade visível, ou seja, uma obra composta apenas por elementos puros, como as formas, as linhas e as cores. Também chamado de "arte abstrata", este movimento se desenvolveu em várias vertentes, até passar a ser o traço predominante de toda a produção artística realizada ao longo do século 20.

     Os abstracionistas radicalizaram uma tendência típica das principais vanguardas artísticas do final do século 19 e início do século 20. Desde a invenção da fotografia, o impressionismo havia buscado novas formas de representar o mundo, distanciando-se da mera reprodução "fiel" e "imutável" dos objetos. Os impressionistas procuravam captar as impressões visuais provocadas por estes mesmos objetos em determinado momento, impressões fugidias, que poderiam variar de acordo com a luz, por exemplo. Com a eliminação dos contornos, o impressionismo produziu pinturas em que a luminosidade – e não as pessoas ou as coisas – era o principal tema do quadro.

      Os pós-impressionistas e expressionistas, por sua vez, libertaram a cor e a linha de suas funções meramente representativas, exagerando propositalmente as formas, para expressar a prevalência da emoção do artista sobre o mundo real. Os cubistas, a seu modo, também romperam com a idéia da arte como imitação da natureza, ao abandonar as noções tradicionais de perspectiva e volume, retratando os objetos de vários pontos de vista simultâneos, decompostos em figuras geométricas.

       Mas, a todos esses e outros movimentos que procuravam um distanciamento e uma releitura do chamado "mundo objetivo", o abstracionismo contrapôs uma recusa radical a qualquer espécie de representação. Em outras palavras, não se tratava mais de ver os objetos do mundo com novos olhos, mas de criar um universo à parte, uma realidade autônoma, criada pelo próprio artista. Era isso o que Kandinsky queria dizer com uma de suas frases mais célebres: "Criar uma obra de arte é criar um mundo".

Sites relacionados

•    Kandinsky– Página em português sobre a vida e a obra do artista.

•    WebMuseum – Galeria virtual, com informações sobre Kandinsky e reproduções ampliáveis de alguns de seus principais trabalhos.

•    Museu Guggenheim– Página da instituição dedicada a Kandinsky. Contém dados biográficos e fotos comentadas de obras do artista.

•    ArtCyclopedia– Relação e localização das principais obras de Kandinsky, espalhadas em museus e galerias de todo o mundo.

•    Folha Online – Veja tudo o que já se publicou sobre Kandinsky na Folha Online

Principais obras

1. Parque de Achityrka (1901) – Obra ainda influenciada pelos impressionistas, antes da conversão definitiva do artista ao abstracionismo.


2. Composições, Improvisações e Impressões – Série de quadros realizados entre 1910 e 1914, nos quais Kandinsky parte de formas difusas até chegar à abstração pura.





3. No Quadrado Negro (1923) – Trabalho representativo da fase em que, na década de 1920, Kandinsky passa a utilizar elementos geométricos.



4. Élan Tempéré (1944) – O último quadro pintado por Kandinsky, pouco antes de falecer.

Fonte: Grandes Mestres
Imagens: 7 das artes

GRANDES MESTRES - Gustav Klimt

Biografia 
Fantasias douradas

- Gustav Klimt (1862-1918) - 

        Em 1894, ao receber a incumbência de pintar três grandes painéis para o teto do auditório da Universidade de Viena, o artista Gustav Klimt provocou escândalo. Os professores e diretores da Universidade de Viena ficaram chocados. Acharam que aquilo era uma provocação, um emaranhado caótico e sem sentido de imagens, algumas delas supostamente beirando a pornografia.

        Ao representar as figuras da Filosofia, da Medicina e da Jurisprudência -- os três cursos da Universidade --, Klimt deixara de lado o estilo que o consagrara até ali. Entre outras obras, ele já havia assinado a decoração do teto e das escadarias laterais do imponente Teatro Municipal de Viena, além de ter finalizado o projeto de decoração do Museu de História da Arte da cidade. Era, portanto, quase uma espécie de muralista oficial, filiado à Sociedade dos Artistas Vienenses.

        Mas, dessa vez, nos painéis da Universidade, lançara mão de alegorias inusitadas, em que corpos nus femininos eram apresentados em poses tidas como obscenas, enquanto os rostos, com olhos semicerrados e bocas entreabertas, passavam um ar de lascívia e de uma mórbida sensualidade. Sem falar que, ao abandonar o olhar realista e adotar os maneirismos da art nouveau, Klimt provocou duplo espanto entre os tradicionalistas.

       Em 1906 conheceu Egon Schiele em cuja obra exerceu grande influência.

       A polêmica teve início em 1900, quando Gustav Klimt, já rompido com a conservadora Sociedade dos Artistas Vienenses, passara a dirigir uma entidade dissidente, a Secessão de Viena. Em uma exposição patrocinada pelo novo grupo, exibiu o primeiro dos três painéis, A Filosofia. Alvo de acirradas controvérsias, prosseguiu no trabalho durante mais alguns anos, aem 1905 retirou os painéis e devolveu seus honorários , após receber uma saraivada de críticas que extrapolou os muros da Universidade e reverberou na imprensa local.. O último painel, A Jurisprudência, foi concluído somente em 1907.

        Livre das amarras oficiais, Klimt deu prosseguimento a sua carreira com uma dose ainda maior de liberdade. Deixou a Secessão para, com outros colegas, fundar o chamado Grupo Klimt. Apesar do escândalo dos painéis para a Universidade, tornou-se o artista predileto da sociedade local, destacando-se como um retratista original, especializado em pintar rostos femininos envoltos em uma esmerada ornamentação, o que viria a se tornar uma marca registrada.

         Seus trabalhos mais famosos pertencem à chamada "fase dourada", na qual mais uma vez retratou preferencialmente mulheres, de forma quase figurativista, mas em que as figuras humanas são adornadas por espirais, arabescos, pequenos objetos e formas geométricas. O aspecto naturalista das mãos e corpos contrasta com o fundo exuberante e fantasioso.

         Barbudo, na maioria das vezes envolto em uma túnica escura sem colarinho, Gustave Klimt tornou-se uma figura exótica, célebre por seus muitos casos amorosos. Ao longo de muitos anos tentou, sem sucesso, ser admitido na Academia de Arte de Viena. Só em 1917, aos 55 anos, recebeu o devido reconhecimento, ao ser eleito membro honorário daquela entidade. Não houve tempo, contudo, para desfrutar de tal homenagem. No início do ano seguinte, em janeiro, sofreu um ataque de apoplexia e morreu quase um mês depois.

Curiosidades

•    Trabalho por encomenda:No início da carreira, Gustav Klimt trabalhava junto com um de seus irmãos, Ernst. Ainda rapazes, ao entrar na Escola de Artes Aplicadas de Viena, os dois conheceram um outro jovem artista, Franz Matsch, de quem se tornaram amigos e parceiros profissionais. Ao deixar a escola, o trio montou um estúdio particular em sociedade e começou a receber encomendas. Gustav, Ernst e Franz fizeram alguns trabalhos de painéis decorativos em mansões na cidade até surgir o primeiro grande convite: decorar as escadarias e o teto do Teatro Municipal de Viena.

•    Exposição triunfal:Após romper com a Sociedade dos Artistas Vienenses e fundar a Secessão, Gustav Klimt e outros membros do grupo montaram, em 1898, uma exposição coletiva. Realizada na Associação dos Construtores de Jardins da cidade, o evento foi visto com desconfiança pelos críticos. Mas foi um sucesso de público e de venda. Cerca de 60 mil pessoas visitaram a mostra. E o volume de obras negociadas foi tão elevado que, com o dinheiro obtido, a Secessão conseguiu construir sua sede própria.

•    Destruídos pelo fogo:Os controvertidos painéis pintados por Klimt para o auditório da Universidade de Viena renderam-lhe a acusação de "perverter a juventude". Infelizmente, a obra não sobreviveu para contar sua história. Em 1945, um incêndio a reduziu às cinzas. Dos painéis originais, restaram apenas algumas poucas fotografias, quase todas em preto e branco.

•    A prima:Gustav Klimt era um mestre do desenho erótico. Na maior parte de seu trabalho em papel, vê-se mulheres em poses lânguidas, seminuas ou em trajes sumários. Uma de suas modelos favoritas era a prima Emilie Flöge, a dona de uma sofisticada loja de modas e com quem o artista manteve um longo romance, embora nunca tenha se casado com ela.

•    Painel milionário:Em 1904, o milionário e industrial belga Adolphe Stoclet encomendou ao arquiteto vanguardista Joseph Hoffman a construção de um palácio em Bruxelas. Coube a Gustav Klimt a realização de um mural para a sala de jantar. Klimt concebeu então o painel "Árvore da Vida", no qual utilizou pastilhas douradas, pedaços de azulejos, mármore, metal esmaltado e até mesmo pedras preciosas.

Contexto histórico - Viena, epicentro cultural

       Na virada do século 19 para o século 20, a cidade de Viena produziu uma extraordinária geração de pensadores e artistas. Entre eles, o pai da psicanálise, Sigmund Freud, o filósofo Ludwig Wittgenstein, os escritores Karl Kraus e Hugo von Hofmannsthal, os compositores Gustav Mahler e Arnold Schönberg. Seus nomes, junto com o de Gustav Klimt, ajudaram a compor e dar relevo ao epicentro cultural que os historiadores costumam chamar de "modernidade vienense".

       Viena, capital da Áustria, viveu intensamente a transição entre os dois séculos, período caracterizado por um cenário de efervescência política, intelectual e ideológica, que teria visíveis desdobramentos na história européia das décadas subseqüentes, até a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Era o momento em que assistia-se à derrocada definitiva de uma estrutura social baseada em uma aristocracia agrária e financiada por mercadores burgueses. Novas forças econômicas e políticas -- assim como novas reivindicações e demandas sociais -- surgiam no bojo da Revolução Industrial.

       No mundo das artes, tem início a chamada Art Nouveau, essencialmente gráfica e decorativa, uma reação ao academicismo no qual estava impregnada a arte do século 19. O trabalho de Klimt se desenvolveu a partir da Art Noveau, mas evoluiu para um estilo pessoal, com assumida influência da arte da Antiguidade, especialmente egípcia e grega, mas também dos famosos mosaicos bizantinos.

      No final da vida, Klimt aproximou-se da estética impressionista, inclusive tendo passado a se concentrar na pintura de paisagens. Mas suas experiências e ousadias formais, especialmente suas ornamentações recheadas de detalhes e motivos oníricos, em que os símbolos substituem a tarefa de retratar o mundo natural, abriram caminho para o abstracionismo, que marcará em grande medida as artes do século 20.

Sites relacionados

•    WebMuseum - Museu virtual com informações biográficas e imagens ampliáveis de várias obras de Klimt. Em inglês.

•    ArtCyclopedia - Localização das principais obras de Klimt, espalhadas em vários museus e galerias de todo o mundo. Em inglês.

•    Pintores famosos - Uma das poucas páginas com informações em português sobre o artista.

•    Folha Online - Veja tudo o que já foi publicado sobre Gustav Klimt na Folha Online.

•    Klimt.com - Site com informações biográficas e reproduções de obras do artista vienense. Em inglês.

•    Fundación Juan March – Site sobre exposição de Klint: "A destruição criadora" realizada na Fundação em outobro de 2006 à janeiro de 2007, com informações importantes sobre vida e obra do artista e links para exposições anteriores. Em espanhol.

Principais obras

•    1. Judite (1901) - A personagem bíblica que, recriada pelas mãos de Klimt, transforma-se em mais uma das "mulheres fatais" concebidas pelo artista.


•    2. Emile Flöge (1902) - Um dos muitos quadros que pintou tendo sua prima e amante como modelo.



•    3. O Friso de Beethoven (1902) – Inspirado na 9ª Sinfonia de Beethoven, composto em três tempos: A aspiração à felicidade, Forças Inimigas e Hinos à Alegria. Foi exposto na XIV Exposição da Secessão de Viena que foi em homenagem ao compositor.



•    4. A Árvore da Vida (1904) - Painel concebido para o Palácio Stoclet. Nele, destaca-se "O Abraço", uma das obras mais reproduzidas de Klimt.


•    5. Judite II (1909) - O artista revisita o tema da personagem do Antigo Testamento.


•    6. O Beijo (1911) - A obra mais famosa de Klimt, que imortalizou seu estilo único, com corpos humanos envoltos em intricadas e sofisticadas ornamentações douradas.



Fonte: Imagens: 7 das artes
Texto: Grandes Mestres
Colaboração Folha online.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

GRANDES METRES - Michelangelo

Biografia
Divino maravilhoso

- Michelangelo (1475-1564) -

"A escultura é a arte de representar a matéria". São palavras do próprio Michelangelo, escultor, pintor e arquiteto italiano, conhecido entre seus contemporâneos como o "Divino", uma maneira no mínimo justa de se referir a este que, ainda em vida, já era visto como um artista completo, talentoso, de espantosa memória visual e técnica irrepreensível.

Nascido em 1475 na pequena cidade de Caprese, próxima a Arezzo, Michelangelo di Ludovico Buonarroti Simoni era filho de um magistrado que também possuía uma mina de mármore e uma pequena fazenda. Criado por uma ama-de-leite cujo marido era cortador de mármore, um Michelangelo ainda pequeno já convivia com o material que lhe seria tão caro durante toda a vida.


Inicialmente contrários às aptidões artísticas latentes no filho, os pais de Michelangelo acabaram concordando em deixá-lo ingressar, aos 13 anos, como aprendiz do pintor Domenico Ghirlandaio. Pouco mais de um ano depois o jovem artista entrou para a escola de escultura de Lorenzo de Médici, poeta e entusiasta das artes em cuja residência havia um jardim com estátuas clássicas italianas. Estava travado o contato do futuro escultor com aquelas que seriam sua obsessão durante toda a vida: esculturas de corpos nus e atléticos.

Lorenzo morreu e, após dois anos na residência dos Médici, o artista foi obrigado a voltar para a casa do pai, em 1492. É nesse período que Michelangelo se dedica ao estudo da anatomia humana, dissecando cadáveres na Igreja do Santo Espírito, em Florença. Esses conhecimentos seriam fundamentais para a excelência atingida posteriormente em suas esculturas, que revelavam um conhecimento detalhado de cada músculo do corpo humano.

Após breves períodos em Veneza e Bolonha, Michelangelo fixou-se em Roma, onde foi convidado a trabalhar para o papa Júlio II, dando início a um relacionamento conturbado que inauguraria o "período heróico" do artista. O grandioso túmulo encomendado a ele por Júlio II, com quarenta grandes estátuas à sua volta, nunca seria concluído, devido principalmente às brigas entre os dois. Júlio II era vaidoso e impaciente, mas não negava sua imensa admiração por Michelangelo.

Foi servindo a esse papa, também, que Michelangelo realizou sua mais extraordinária obra: as pinturas no teto e paredes da Capela Sistina. Ainda que os afrescos não fossem sua especialidade, o "Divino" não desapontou e criou uma espetacular sucessão de cenas e personagens bíblicos, onde os corpos dos personagens se contorciam a fim de caberem na curva das paredes laterais. O trabalho levou quatro anos para ficar pronto.

Nas palavras do pintor e arquiteto italiano Giorgio Vasari, seu contemporâneo, as representações de figuras humanas criadas por Michelangelo têm "o vigor e o apelo da carne viva". Sua intenção ao criar as fantásticas esculturas em mármore definem seu espírito: Michelangelo desejava liberar uma figura aprisionada dentro do bloco de pedra, e considerava o trabalho terminado somente quando o "conceito" inicial se apresentava totalmente visível, revelando a forma desejada pelo escultor.

Michelangelo escreveu ainda livros de poesia e foi também um grande arquiteto, tendo projetado, entre outras obras, a impressionante cúpula da Basílica de São Pedro. Admirado por seus conterrâneos e considerado o maior artista de seu tempo, continuou trabalhando até sua morte, aos 89 anos, em Roma. Seu último pedido, já no leito de morte, foi ser enterrado em sua amada Florença.

Curiosidades

•    Duelo de gigantes:Especula-se que Da Vinci e Michelangelo não simpatizavam muito um com o outro. Os "gigantes" se conheceram em Roma, onde Michelangelo já tinha fama estabelecida. Talvez por rivalizar no quesito "maior artista da época", os dois tiveram pouco contato e não chegaram a ser amigos. A "Batalha das batalhas" ocorreu em 1503 quando Michelangelo e Leonardo foram convidados para pintar os afrescos da sala do Conselho do Palácio Vecchio. Michelangelo pintou a "Batalha de Cascina" e Da Vinci a "Batalha de Anghiari" , ambas foram destruídas e delas só existem desenhos.

•    Nariz quebrado:Ainda jovem, quando estudava na escola de Lorenzo de Médici, Michelangelo teria ridicularizado o trabalho de um colega, que lhe respondeu com um forte murro no nariz. O artista ficou para sempre com um nariz de aspecto "achatado", o que, para alguém que buscava a beleza ideal em seu trabalho, não deve ter sido muito agradável.

•    Relação neurótica:Michelangelo teria sido agredido a golpes de bengala pelo vaidoso papa Júlio II, quando trabalhava na pintura da Capela Sistina. O motivo: o trabalho demorava demais para ficar pronto. Ao final de quatro anos, as extraordinárias pinturas estavam terminadas, e já nessa época a capela passou a receber multidões de visitantes interessados em apreciar a obra.

•    Fama:Acredita-se que Michelangelo era homossexual. O artista era extremamente preocupado e meticuloso com os nus masculinos que realizava, mais do que qualquer outro pintor ou escultor de sua época. Em 1530, teria se apaixonado por Tommaso Cavalieri, um jovem da nobreza. Cavalieri foi receptivo e os dois acabaram se tornando amigos. Michelangelo dedicou até sonetos de amor ao jovem, que teria, inclusive, estado presente na hora da morte do "divino", 34 anos depois de o ter conhecido.

•    Megalomania:O grandioso túmulo encomendado a Michelangelo pelo papa Júlio II, em cujo projeto original constavam nada menos que 40 estátuas de mármore em tamanho real, nunca foi concluído. Acabou com seis estátuas, sendo apenas três de autoria de Michelangelo. Uma delas, representando Moisés, é considerada a mais perfeita escultura realizada pelo artista. Surpreso com o resultado desse trabalho, Michelangelo teria batido com o martelo na estátua e gritado: "Parla, parla!".

•    Michelangelo poeta:O artista deixou cerca de 300 poemas, escritos entre 1501 e 1560. Alguns deles contêm uma carga homoerótica bastante forte, evidenciando o possível homossexualismo do artista. Por outro lado, existem também diversos poemas dedicados a Vittoria Colonna, viúva e também poeta, um amor platônico vivido por Michelangelo.

•    Filme sobre o artista:"Agonia e Êxtase" - Carol Reed, EUA, 1965. Com Charlton Heston como Michelangelo e Rex Harrison como o Papa Júlio II.

Contexto histórico
Na hora e no lugar certos

Juntamente com Leonardo Da Vinci e Rafael Sanzio, Michelangelo Buonarroti é um dos três grandes expoentes da arte do Renascimento italiano. Os três foram artistas completos, que se aventuravam com sucesso pela pintura, escultura, arquitetura e desenho. Homens influentes em sua época, foram celebrados ainda em vida tanto pela nobreza quanto pelo povo.

Mas, se Michelangelo foi um símbolo renascentista, podemos dizer também que ele foi um dos primeiros a apontar para algumas mudanças em relação a esse estilo de pintar e esculpir: considerado um dos primeiros a antecipar o "maneirismo" e o "barroco", Michelangelo gostava de representar pessoas em posições peculiares, com os corpos contorcidos e sempre em movimento. Muitas vezes o artista distorcia as escalas, criando personagens gigantescos e em posições extravagantes, bastante expressivos e dramáticos. Sua magnífica estátua de Davi, por exemplo, possui pés e mãos em proporções maiores que o corpo.

Seu estilo, também chamado de "heróico", já sinalizava algumas mudanças em relação aos renascentistas mais puros, que se baseavam em valores clássicos greco-romanos e na representação racional das figuras. Michelangelo ousava ao representar personagens bastante musculosos, exagerados, por vezes alongados ou desproporcionais. E sempre propositalmente.

Sua trajetória não teria sido tão brilhante, porém, caso tivesse vivido em outra época. Cidades como Florença e Veneza passavam por um momento de extrema agitação cultural, com nobres e clérigos incentivando as artes. A ampliação das fronteiras, com a descoberta do Novo Mundo e o crescente comércio com as Índias, trazia riquezas à Europa e incentivava o mecenato. Um homem como o papa Júlio II, com suas manias de grandeza e sua vaidade, foi fundamental para que um gênio como Michelangelo tivesse a oportunidade de colocar em prática sua técnica e talento.

Sites relacionados

•    TG3 - Traz biografia, contexto histórico e fotos de trabalhos de Michelangelo. Em português.

•    Taschen - Website e loja virtual da editora de livros de arte. Contém diversas publicações sobre o trabalho de Michelangelo e o Renascimento.

•    Museu Vaticano - Site oficial da Capela Sistina, localizado dentro do portal do Vaticano. Possui versões em inglês, espanhol e português, entre outras línguas.

•    Pintores Famosos - Traz biografias e reproduções de diversos pintores famosos, entre eles Michelangelo. Possui um bom perfil do artista.

•    Scientific Electronic Library Online - Página da Revista Brasileira de História, ligada à Universidade de São Paulo, traz um ensaio sobre poemas de Michelangelo (traduzidos para o português).

Principais obras

    •    1. Afrescos da Capela Sistina (1508-12) - O mais grandioso dos trabalhos de Michelangelo, com episódios do Velho Testamento e o Juízo Final.


•    2. A Pietà (1499-1500) - Feita em mármore, é uma escultura belíssima e extremamente expressiva. O artista foi criticado por apresentar uma Virgem jovem demais.



"Pièta" 2007
Max Ginsburg

•    3. Davi (1501-04) - Considerada sua obra-prima. Escultura de um Davi esbelto, atlético e de postura graciosa.



•    4. Moisés (1513-16) - Escultura em mármore. Figura central do túmulo do papa Júlio II. Na cabeça do profeta, podem-se ver dois pequenos chifres.



•    5. Tondo Doni (1504-06) - Pintura em tela, em formato circular, comum quando se representava a Sagrada Família.




•    6. Auto-retrato (pintura) - Auto-retrato de Michelangelo, já velho. Expressão melancólica e sombria.



Fonte:

Texto:
Grandes Mestres

Imagens:
7 das artes
Google wikipedia
Um caravaggio francesa
Anibal e Branca