quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

GRANDES MESTRES - Wassily Kandinsky

Biografia
O arauto da arte abstrata

 - Wassily Kandinsky (1866-1944) - 

     Wassily Kandinsky poderia ter sido apenas um obscuro professor de direito na velha Rússia czarista, se não houvesse decidido, certa manhã, conferir uma exposição de pintores impressionistas franceses em Moscou. A visão de um monte de feno, pintado por Monet, provocou nele um entusiasmo incomum.

      Numa época em que os críticos mais tradicionais torciam o nariz e consideravam os quadros impressionistas meros borrões de tinta sobre a tela, Kandinsky ficou deslumbrado. Segundo ele próprio contaria mais tarde, foi ali que percebeu, pela primeira vez, que a obra de arte não precisava se resumir a imitar a natureza. Estava plantada a semente da arte abstrata, forma de expressão que teria em Kandinsky um pioneiro e um de seus mais ardorosos teóricos.

      Nascido em Moscou, no ano de 1866, Kandinsky não abraçou o abstracionismo da noite para o dia. Foi necessário todo um processo de evolução pictórica, até alcançar gradativamente a completa abolição da figura em sua obra.

      Ainda sob o efeito da exposição impressionista, decidiu recusar o cargo de assistente na faculdade de direito em uma universidade russa e, em 1896, aos 30 anos, mudou-se para Munique, na Alemanha, com o firme propósito de dedicar-se ao estudo da arte. Antes de partir, casou com uma prima, Anya Ticheyeva, que levou junto com ele.

      Mas as aulas ministradas pelos professores na Alemanha, ainda presos ao realismo e ao academicismo, não o satisfizeram. Aproximou-se então de artistas mais jovens, como Paul Klee, e passou a desenvolver sua própria teoria estética, pregando a libertação da arte da reprodução subserviente da natureza.

      Seus primeiros quadros europeus, é verdade, ainda mostravam nítidas influências impressionistas. Exibiam figuras humanas, objetos naturais e evocavam elementos da arte popular russa. Aos poucos, porém, os contornos se fizeram mais imprecisos, os rostos perderam definição e, cada vez mais, as formas tornaram-se apenas vagas referências de algo existente no mundo real. "Enquanto a arte não dispensar o objeto, ela será meramente descritiva", sentenciou Kandinsky.

      Casado pela segunda vez, com uma artista alemã, Gabriele Muenter, Kandinsky decidiu voltar à Rússia em 1914. Três anos depois, em 1917, trocou Gabriele por uma jovem russa, Nina von Andreyewsky, com quem ficará até o fim da vida. Naquele mesmo ano, eclodiu a revolução socialista, liderada por Lênin. Respeitado pelos intelectuais revolucionários, o artista foi convidado a fazer parte do Comissariado para a Educação e a dar aulas em academias estatais, mantidas pelo novo regime.

      Mas a pintura de Wassily Kandinsky era abertamente incompatível com o "realismo socialista", estilo imposto aos artistas russos após a Revolução. Classificado pelos ideólogos soviéticos como um representante da "arte burguesa e decadente", Kandinsky viu-se obrigado a deixar novamente o seu país natal, retornando em 1921 à Alemanha, onde assumiu o cargo de professor da Bauhaus, famosa e inovadora escola de arquitetura e artes aplicadas.

      Em 1933, com a chegada de Hitler ao poder, a alemã Bauhaus foi fechada. Kandinsky, que já fora criticado e defenestrado pelos soviéticos, passou a ser rotulado pelos nazistas como um "cancro da bolchevização da arte". Não lhe restava outra alternativa a não ser providenciar uma nova e imediata transferência, agora para Paris.

      Sete anos mais tarde, quando os nazistas invadiram a França, Wassily Kandinsky estava velho demais para empreender mais outra mudança. Septuagenário, cuidou de diminuir o ritmo de sua produção e passou a viver de forma discreta e reservada.

      Kandinsky morreu em 1944, aos 78 anos. Passado o obscurantismo nazista, seu nome foi aclamado, na Alemanha e em toda a Europa, como o mestre que inaugurou o abstracionismo, uma das maiores revoluções de todos os tempos na história da arte.

Curiosidades

•    De cabeça para baixo:Kandinsky costumava dizer que passou a compreender de forma mais decisiva o poder da arte abstrata quando, certa noite, ao entrar em seu ateliê, não conseguiu reconhecer um de seus próprios trabalhos, que estava de cabeça para baixo.

•    Coisa de louco:As primeiras reações da crítica à obra abstracionista de Kandinsky foi de absoluta surpresa e rejeição. Muitos consideraram que aquele amontoado de linhas, cores e formas sem significado era obra de um doido varrido. Ou, na melhor das hipóteses, de alguém que manejara tintas e pincéis sob os efeitos de algum alucinógeno, como o haxixe.

•    Teoria e prática:Kandinsky, além de artista, era também um teórico. Escreveu alguns livros para defender suas idéias a respeito do abstracionismo. Entre suas obras principais destacam-se "Do Espiritual na Arte", publicado em 1912, e "Ponto e Linha sobre o Plano", editado na forma de apostila pela Bauhaus.

•    Cidadão do mundo:Kandinsky mudou de nacionalidade duas vezes. Inicialmente, após deixar a Rússia e fixar-se em Munique, solicitou cidadania alemã. Mais tarde, com a ascensão dos nazistas ao poder, refugiou-se em Paris e, mais uma vez, trocou oficialmente de nacionalidade, tornando-se cidadão francês.

•    Ao lado de Freud e Einstein:O abstracionismo de Kandinsky representou uma ruptura tão radical em relação à arte figurativa tradicional que, hoje, muitos críticos e historiadores da cultura costumam colocá-lo em um honroso panteão de grandes pensadores e cientistas da história da humanidade: ele estaria, para a pintura, no mesmo grau de importância que Freud tem para a psicologia e Einstein para a física.

Contexto histórico - Em busca do traço puro

       O abstracionismo, inaugurado por Kandinsky por volta de 1910, tem como pressuposto básico a realização de uma arte independente do mundo externo e da realidade visível, ou seja, uma obra composta apenas por elementos puros, como as formas, as linhas e as cores. Também chamado de "arte abstrata", este movimento se desenvolveu em várias vertentes, até passar a ser o traço predominante de toda a produção artística realizada ao longo do século 20.

     Os abstracionistas radicalizaram uma tendência típica das principais vanguardas artísticas do final do século 19 e início do século 20. Desde a invenção da fotografia, o impressionismo havia buscado novas formas de representar o mundo, distanciando-se da mera reprodução "fiel" e "imutável" dos objetos. Os impressionistas procuravam captar as impressões visuais provocadas por estes mesmos objetos em determinado momento, impressões fugidias, que poderiam variar de acordo com a luz, por exemplo. Com a eliminação dos contornos, o impressionismo produziu pinturas em que a luminosidade – e não as pessoas ou as coisas – era o principal tema do quadro.

      Os pós-impressionistas e expressionistas, por sua vez, libertaram a cor e a linha de suas funções meramente representativas, exagerando propositalmente as formas, para expressar a prevalência da emoção do artista sobre o mundo real. Os cubistas, a seu modo, também romperam com a idéia da arte como imitação da natureza, ao abandonar as noções tradicionais de perspectiva e volume, retratando os objetos de vários pontos de vista simultâneos, decompostos em figuras geométricas.

       Mas, a todos esses e outros movimentos que procuravam um distanciamento e uma releitura do chamado "mundo objetivo", o abstracionismo contrapôs uma recusa radical a qualquer espécie de representação. Em outras palavras, não se tratava mais de ver os objetos do mundo com novos olhos, mas de criar um universo à parte, uma realidade autônoma, criada pelo próprio artista. Era isso o que Kandinsky queria dizer com uma de suas frases mais célebres: "Criar uma obra de arte é criar um mundo".

Sites relacionados

•    Kandinsky– Página em português sobre a vida e a obra do artista.

•    WebMuseum – Galeria virtual, com informações sobre Kandinsky e reproduções ampliáveis de alguns de seus principais trabalhos.

•    Museu Guggenheim– Página da instituição dedicada a Kandinsky. Contém dados biográficos e fotos comentadas de obras do artista.

•    ArtCyclopedia– Relação e localização das principais obras de Kandinsky, espalhadas em museus e galerias de todo o mundo.

•    Folha Online – Veja tudo o que já se publicou sobre Kandinsky na Folha Online

Principais obras

1. Parque de Achityrka (1901) – Obra ainda influenciada pelos impressionistas, antes da conversão definitiva do artista ao abstracionismo.


2. Composições, Improvisações e Impressões – Série de quadros realizados entre 1910 e 1914, nos quais Kandinsky parte de formas difusas até chegar à abstração pura.





3. No Quadrado Negro (1923) – Trabalho representativo da fase em que, na década de 1920, Kandinsky passa a utilizar elementos geométricos.



4. Élan Tempéré (1944) – O último quadro pintado por Kandinsky, pouco antes de falecer.

Fonte: Grandes Mestres
Imagens: 7 das artes

GRANDES MESTRES - Gustav Klimt

Biografia 
Fantasias douradas

- Gustav Klimt (1862-1918) - 

        Em 1894, ao receber a incumbência de pintar três grandes painéis para o teto do auditório da Universidade de Viena, o artista Gustav Klimt provocou escândalo. Os professores e diretores da Universidade de Viena ficaram chocados. Acharam que aquilo era uma provocação, um emaranhado caótico e sem sentido de imagens, algumas delas supostamente beirando a pornografia.

        Ao representar as figuras da Filosofia, da Medicina e da Jurisprudência -- os três cursos da Universidade --, Klimt deixara de lado o estilo que o consagrara até ali. Entre outras obras, ele já havia assinado a decoração do teto e das escadarias laterais do imponente Teatro Municipal de Viena, além de ter finalizado o projeto de decoração do Museu de História da Arte da cidade. Era, portanto, quase uma espécie de muralista oficial, filiado à Sociedade dos Artistas Vienenses.

        Mas, dessa vez, nos painéis da Universidade, lançara mão de alegorias inusitadas, em que corpos nus femininos eram apresentados em poses tidas como obscenas, enquanto os rostos, com olhos semicerrados e bocas entreabertas, passavam um ar de lascívia e de uma mórbida sensualidade. Sem falar que, ao abandonar o olhar realista e adotar os maneirismos da art nouveau, Klimt provocou duplo espanto entre os tradicionalistas.

       Em 1906 conheceu Egon Schiele em cuja obra exerceu grande influência.

       A polêmica teve início em 1900, quando Gustav Klimt, já rompido com a conservadora Sociedade dos Artistas Vienenses, passara a dirigir uma entidade dissidente, a Secessão de Viena. Em uma exposição patrocinada pelo novo grupo, exibiu o primeiro dos três painéis, A Filosofia. Alvo de acirradas controvérsias, prosseguiu no trabalho durante mais alguns anos, aem 1905 retirou os painéis e devolveu seus honorários , após receber uma saraivada de críticas que extrapolou os muros da Universidade e reverberou na imprensa local.. O último painel, A Jurisprudência, foi concluído somente em 1907.

        Livre das amarras oficiais, Klimt deu prosseguimento a sua carreira com uma dose ainda maior de liberdade. Deixou a Secessão para, com outros colegas, fundar o chamado Grupo Klimt. Apesar do escândalo dos painéis para a Universidade, tornou-se o artista predileto da sociedade local, destacando-se como um retratista original, especializado em pintar rostos femininos envoltos em uma esmerada ornamentação, o que viria a se tornar uma marca registrada.

         Seus trabalhos mais famosos pertencem à chamada "fase dourada", na qual mais uma vez retratou preferencialmente mulheres, de forma quase figurativista, mas em que as figuras humanas são adornadas por espirais, arabescos, pequenos objetos e formas geométricas. O aspecto naturalista das mãos e corpos contrasta com o fundo exuberante e fantasioso.

         Barbudo, na maioria das vezes envolto em uma túnica escura sem colarinho, Gustave Klimt tornou-se uma figura exótica, célebre por seus muitos casos amorosos. Ao longo de muitos anos tentou, sem sucesso, ser admitido na Academia de Arte de Viena. Só em 1917, aos 55 anos, recebeu o devido reconhecimento, ao ser eleito membro honorário daquela entidade. Não houve tempo, contudo, para desfrutar de tal homenagem. No início do ano seguinte, em janeiro, sofreu um ataque de apoplexia e morreu quase um mês depois.

Curiosidades

•    Trabalho por encomenda:No início da carreira, Gustav Klimt trabalhava junto com um de seus irmãos, Ernst. Ainda rapazes, ao entrar na Escola de Artes Aplicadas de Viena, os dois conheceram um outro jovem artista, Franz Matsch, de quem se tornaram amigos e parceiros profissionais. Ao deixar a escola, o trio montou um estúdio particular em sociedade e começou a receber encomendas. Gustav, Ernst e Franz fizeram alguns trabalhos de painéis decorativos em mansões na cidade até surgir o primeiro grande convite: decorar as escadarias e o teto do Teatro Municipal de Viena.

•    Exposição triunfal:Após romper com a Sociedade dos Artistas Vienenses e fundar a Secessão, Gustav Klimt e outros membros do grupo montaram, em 1898, uma exposição coletiva. Realizada na Associação dos Construtores de Jardins da cidade, o evento foi visto com desconfiança pelos críticos. Mas foi um sucesso de público e de venda. Cerca de 60 mil pessoas visitaram a mostra. E o volume de obras negociadas foi tão elevado que, com o dinheiro obtido, a Secessão conseguiu construir sua sede própria.

•    Destruídos pelo fogo:Os controvertidos painéis pintados por Klimt para o auditório da Universidade de Viena renderam-lhe a acusação de "perverter a juventude". Infelizmente, a obra não sobreviveu para contar sua história. Em 1945, um incêndio a reduziu às cinzas. Dos painéis originais, restaram apenas algumas poucas fotografias, quase todas em preto e branco.

•    A prima:Gustav Klimt era um mestre do desenho erótico. Na maior parte de seu trabalho em papel, vê-se mulheres em poses lânguidas, seminuas ou em trajes sumários. Uma de suas modelos favoritas era a prima Emilie Flöge, a dona de uma sofisticada loja de modas e com quem o artista manteve um longo romance, embora nunca tenha se casado com ela.

•    Painel milionário:Em 1904, o milionário e industrial belga Adolphe Stoclet encomendou ao arquiteto vanguardista Joseph Hoffman a construção de um palácio em Bruxelas. Coube a Gustav Klimt a realização de um mural para a sala de jantar. Klimt concebeu então o painel "Árvore da Vida", no qual utilizou pastilhas douradas, pedaços de azulejos, mármore, metal esmaltado e até mesmo pedras preciosas.

Contexto histórico - Viena, epicentro cultural

       Na virada do século 19 para o século 20, a cidade de Viena produziu uma extraordinária geração de pensadores e artistas. Entre eles, o pai da psicanálise, Sigmund Freud, o filósofo Ludwig Wittgenstein, os escritores Karl Kraus e Hugo von Hofmannsthal, os compositores Gustav Mahler e Arnold Schönberg. Seus nomes, junto com o de Gustav Klimt, ajudaram a compor e dar relevo ao epicentro cultural que os historiadores costumam chamar de "modernidade vienense".

       Viena, capital da Áustria, viveu intensamente a transição entre os dois séculos, período caracterizado por um cenário de efervescência política, intelectual e ideológica, que teria visíveis desdobramentos na história européia das décadas subseqüentes, até a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Era o momento em que assistia-se à derrocada definitiva de uma estrutura social baseada em uma aristocracia agrária e financiada por mercadores burgueses. Novas forças econômicas e políticas -- assim como novas reivindicações e demandas sociais -- surgiam no bojo da Revolução Industrial.

       No mundo das artes, tem início a chamada Art Nouveau, essencialmente gráfica e decorativa, uma reação ao academicismo no qual estava impregnada a arte do século 19. O trabalho de Klimt se desenvolveu a partir da Art Noveau, mas evoluiu para um estilo pessoal, com assumida influência da arte da Antiguidade, especialmente egípcia e grega, mas também dos famosos mosaicos bizantinos.

      No final da vida, Klimt aproximou-se da estética impressionista, inclusive tendo passado a se concentrar na pintura de paisagens. Mas suas experiências e ousadias formais, especialmente suas ornamentações recheadas de detalhes e motivos oníricos, em que os símbolos substituem a tarefa de retratar o mundo natural, abriram caminho para o abstracionismo, que marcará em grande medida as artes do século 20.

Sites relacionados

•    WebMuseum - Museu virtual com informações biográficas e imagens ampliáveis de várias obras de Klimt. Em inglês.

•    ArtCyclopedia - Localização das principais obras de Klimt, espalhadas em vários museus e galerias de todo o mundo. Em inglês.

•    Pintores famosos - Uma das poucas páginas com informações em português sobre o artista.

•    Folha Online - Veja tudo o que já foi publicado sobre Gustav Klimt na Folha Online.

•    Klimt.com - Site com informações biográficas e reproduções de obras do artista vienense. Em inglês.

•    Fundación Juan March – Site sobre exposição de Klint: "A destruição criadora" realizada na Fundação em outobro de 2006 à janeiro de 2007, com informações importantes sobre vida e obra do artista e links para exposições anteriores. Em espanhol.

Principais obras

•    1. Judite (1901) - A personagem bíblica que, recriada pelas mãos de Klimt, transforma-se em mais uma das "mulheres fatais" concebidas pelo artista.


•    2. Emile Flöge (1902) - Um dos muitos quadros que pintou tendo sua prima e amante como modelo.



•    3. O Friso de Beethoven (1902) – Inspirado na 9ª Sinfonia de Beethoven, composto em três tempos: A aspiração à felicidade, Forças Inimigas e Hinos à Alegria. Foi exposto na XIV Exposição da Secessão de Viena que foi em homenagem ao compositor.



•    4. A Árvore da Vida (1904) - Painel concebido para o Palácio Stoclet. Nele, destaca-se "O Abraço", uma das obras mais reproduzidas de Klimt.


•    5. Judite II (1909) - O artista revisita o tema da personagem do Antigo Testamento.


•    6. O Beijo (1911) - A obra mais famosa de Klimt, que imortalizou seu estilo único, com corpos humanos envoltos em intricadas e sofisticadas ornamentações douradas.



Fonte: Imagens: 7 das artes
Texto: Grandes Mestres
Colaboração Folha online.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

GRANDES METRES - Michelangelo

Biografia
Divino maravilhoso

- Michelangelo (1475-1564) -

"A escultura é a arte de representar a matéria". São palavras do próprio Michelangelo, escultor, pintor e arquiteto italiano, conhecido entre seus contemporâneos como o "Divino", uma maneira no mínimo justa de se referir a este que, ainda em vida, já era visto como um artista completo, talentoso, de espantosa memória visual e técnica irrepreensível.

Nascido em 1475 na pequena cidade de Caprese, próxima a Arezzo, Michelangelo di Ludovico Buonarroti Simoni era filho de um magistrado que também possuía uma mina de mármore e uma pequena fazenda. Criado por uma ama-de-leite cujo marido era cortador de mármore, um Michelangelo ainda pequeno já convivia com o material que lhe seria tão caro durante toda a vida.


Inicialmente contrários às aptidões artísticas latentes no filho, os pais de Michelangelo acabaram concordando em deixá-lo ingressar, aos 13 anos, como aprendiz do pintor Domenico Ghirlandaio. Pouco mais de um ano depois o jovem artista entrou para a escola de escultura de Lorenzo de Médici, poeta e entusiasta das artes em cuja residência havia um jardim com estátuas clássicas italianas. Estava travado o contato do futuro escultor com aquelas que seriam sua obsessão durante toda a vida: esculturas de corpos nus e atléticos.

Lorenzo morreu e, após dois anos na residência dos Médici, o artista foi obrigado a voltar para a casa do pai, em 1492. É nesse período que Michelangelo se dedica ao estudo da anatomia humana, dissecando cadáveres na Igreja do Santo Espírito, em Florença. Esses conhecimentos seriam fundamentais para a excelência atingida posteriormente em suas esculturas, que revelavam um conhecimento detalhado de cada músculo do corpo humano.

Após breves períodos em Veneza e Bolonha, Michelangelo fixou-se em Roma, onde foi convidado a trabalhar para o papa Júlio II, dando início a um relacionamento conturbado que inauguraria o "período heróico" do artista. O grandioso túmulo encomendado a ele por Júlio II, com quarenta grandes estátuas à sua volta, nunca seria concluído, devido principalmente às brigas entre os dois. Júlio II era vaidoso e impaciente, mas não negava sua imensa admiração por Michelangelo.

Foi servindo a esse papa, também, que Michelangelo realizou sua mais extraordinária obra: as pinturas no teto e paredes da Capela Sistina. Ainda que os afrescos não fossem sua especialidade, o "Divino" não desapontou e criou uma espetacular sucessão de cenas e personagens bíblicos, onde os corpos dos personagens se contorciam a fim de caberem na curva das paredes laterais. O trabalho levou quatro anos para ficar pronto.

Nas palavras do pintor e arquiteto italiano Giorgio Vasari, seu contemporâneo, as representações de figuras humanas criadas por Michelangelo têm "o vigor e o apelo da carne viva". Sua intenção ao criar as fantásticas esculturas em mármore definem seu espírito: Michelangelo desejava liberar uma figura aprisionada dentro do bloco de pedra, e considerava o trabalho terminado somente quando o "conceito" inicial se apresentava totalmente visível, revelando a forma desejada pelo escultor.

Michelangelo escreveu ainda livros de poesia e foi também um grande arquiteto, tendo projetado, entre outras obras, a impressionante cúpula da Basílica de São Pedro. Admirado por seus conterrâneos e considerado o maior artista de seu tempo, continuou trabalhando até sua morte, aos 89 anos, em Roma. Seu último pedido, já no leito de morte, foi ser enterrado em sua amada Florença.

Curiosidades

•    Duelo de gigantes:Especula-se que Da Vinci e Michelangelo não simpatizavam muito um com o outro. Os "gigantes" se conheceram em Roma, onde Michelangelo já tinha fama estabelecida. Talvez por rivalizar no quesito "maior artista da época", os dois tiveram pouco contato e não chegaram a ser amigos. A "Batalha das batalhas" ocorreu em 1503 quando Michelangelo e Leonardo foram convidados para pintar os afrescos da sala do Conselho do Palácio Vecchio. Michelangelo pintou a "Batalha de Cascina" e Da Vinci a "Batalha de Anghiari" , ambas foram destruídas e delas só existem desenhos.

•    Nariz quebrado:Ainda jovem, quando estudava na escola de Lorenzo de Médici, Michelangelo teria ridicularizado o trabalho de um colega, que lhe respondeu com um forte murro no nariz. O artista ficou para sempre com um nariz de aspecto "achatado", o que, para alguém que buscava a beleza ideal em seu trabalho, não deve ter sido muito agradável.

•    Relação neurótica:Michelangelo teria sido agredido a golpes de bengala pelo vaidoso papa Júlio II, quando trabalhava na pintura da Capela Sistina. O motivo: o trabalho demorava demais para ficar pronto. Ao final de quatro anos, as extraordinárias pinturas estavam terminadas, e já nessa época a capela passou a receber multidões de visitantes interessados em apreciar a obra.

•    Fama:Acredita-se que Michelangelo era homossexual. O artista era extremamente preocupado e meticuloso com os nus masculinos que realizava, mais do que qualquer outro pintor ou escultor de sua época. Em 1530, teria se apaixonado por Tommaso Cavalieri, um jovem da nobreza. Cavalieri foi receptivo e os dois acabaram se tornando amigos. Michelangelo dedicou até sonetos de amor ao jovem, que teria, inclusive, estado presente na hora da morte do "divino", 34 anos depois de o ter conhecido.

•    Megalomania:O grandioso túmulo encomendado a Michelangelo pelo papa Júlio II, em cujo projeto original constavam nada menos que 40 estátuas de mármore em tamanho real, nunca foi concluído. Acabou com seis estátuas, sendo apenas três de autoria de Michelangelo. Uma delas, representando Moisés, é considerada a mais perfeita escultura realizada pelo artista. Surpreso com o resultado desse trabalho, Michelangelo teria batido com o martelo na estátua e gritado: "Parla, parla!".

•    Michelangelo poeta:O artista deixou cerca de 300 poemas, escritos entre 1501 e 1560. Alguns deles contêm uma carga homoerótica bastante forte, evidenciando o possível homossexualismo do artista. Por outro lado, existem também diversos poemas dedicados a Vittoria Colonna, viúva e também poeta, um amor platônico vivido por Michelangelo.

•    Filme sobre o artista:"Agonia e Êxtase" - Carol Reed, EUA, 1965. Com Charlton Heston como Michelangelo e Rex Harrison como o Papa Júlio II.

Contexto histórico
Na hora e no lugar certos

Juntamente com Leonardo Da Vinci e Rafael Sanzio, Michelangelo Buonarroti é um dos três grandes expoentes da arte do Renascimento italiano. Os três foram artistas completos, que se aventuravam com sucesso pela pintura, escultura, arquitetura e desenho. Homens influentes em sua época, foram celebrados ainda em vida tanto pela nobreza quanto pelo povo.

Mas, se Michelangelo foi um símbolo renascentista, podemos dizer também que ele foi um dos primeiros a apontar para algumas mudanças em relação a esse estilo de pintar e esculpir: considerado um dos primeiros a antecipar o "maneirismo" e o "barroco", Michelangelo gostava de representar pessoas em posições peculiares, com os corpos contorcidos e sempre em movimento. Muitas vezes o artista distorcia as escalas, criando personagens gigantescos e em posições extravagantes, bastante expressivos e dramáticos. Sua magnífica estátua de Davi, por exemplo, possui pés e mãos em proporções maiores que o corpo.

Seu estilo, também chamado de "heróico", já sinalizava algumas mudanças em relação aos renascentistas mais puros, que se baseavam em valores clássicos greco-romanos e na representação racional das figuras. Michelangelo ousava ao representar personagens bastante musculosos, exagerados, por vezes alongados ou desproporcionais. E sempre propositalmente.

Sua trajetória não teria sido tão brilhante, porém, caso tivesse vivido em outra época. Cidades como Florença e Veneza passavam por um momento de extrema agitação cultural, com nobres e clérigos incentivando as artes. A ampliação das fronteiras, com a descoberta do Novo Mundo e o crescente comércio com as Índias, trazia riquezas à Europa e incentivava o mecenato. Um homem como o papa Júlio II, com suas manias de grandeza e sua vaidade, foi fundamental para que um gênio como Michelangelo tivesse a oportunidade de colocar em prática sua técnica e talento.

Sites relacionados

•    TG3 - Traz biografia, contexto histórico e fotos de trabalhos de Michelangelo. Em português.

•    Taschen - Website e loja virtual da editora de livros de arte. Contém diversas publicações sobre o trabalho de Michelangelo e o Renascimento.

•    Museu Vaticano - Site oficial da Capela Sistina, localizado dentro do portal do Vaticano. Possui versões em inglês, espanhol e português, entre outras línguas.

•    Pintores Famosos - Traz biografias e reproduções de diversos pintores famosos, entre eles Michelangelo. Possui um bom perfil do artista.

•    Scientific Electronic Library Online - Página da Revista Brasileira de História, ligada à Universidade de São Paulo, traz um ensaio sobre poemas de Michelangelo (traduzidos para o português).

Principais obras

    •    1. Afrescos da Capela Sistina (1508-12) - O mais grandioso dos trabalhos de Michelangelo, com episódios do Velho Testamento e o Juízo Final.


•    2. A Pietà (1499-1500) - Feita em mármore, é uma escultura belíssima e extremamente expressiva. O artista foi criticado por apresentar uma Virgem jovem demais.



"Pièta" 2007
Max Ginsburg

•    3. Davi (1501-04) - Considerada sua obra-prima. Escultura de um Davi esbelto, atlético e de postura graciosa.



•    4. Moisés (1513-16) - Escultura em mármore. Figura central do túmulo do papa Júlio II. Na cabeça do profeta, podem-se ver dois pequenos chifres.



•    5. Tondo Doni (1504-06) - Pintura em tela, em formato circular, comum quando se representava a Sagrada Família.




•    6. Auto-retrato (pintura) - Auto-retrato de Michelangelo, já velho. Expressão melancólica e sombria.



Fonte:

Texto:
Grandes Mestres

Imagens:
7 das artes
Google wikipedia
Um caravaggio francesa
Anibal e Branca

GRANDES MESTRES - Vincent van Gogh

Biografia
O artista maldito




 Vincent van Gogh (1853-1890


       Ele passou para a história como um dos exemplos mais notórios do artista maldito, do gênio desajustado, do homem incompreendido por seu tempo, mas que foi aclamado pela posteridade. Ao longo da vida, sofreu uma série interminável de infortúnios: desilusões amorosas, crises nervosas, misérias financeiras. Foi tratado como louco, ficou várias vezes exposto à fome, à solidão e ao frio. Ridicularizado pela maioria de seus contemporâneos, hoje é considerado um dos maiores mestres da pintura universal.

      Vincent Willem van Gogh nasceu em 30 de março de 1853, em uma pequena aldeia de Groot-Zundert, na Holanda. O irmão mais velho, que também fora batizado como Vincent, nascera um ano antes, 1852, igualmente em 30 de março, mas morrera com apenas seis meses de idade. Assim, a criança recém-nascida vinha ao mundo com a responsabilidade de ocupar o lugar que o destino roubara ao primogênito.

       Por isso, van Gogh foi obrigado a abandonar cedo a escola, para ajudar no sustento da família. Filho de um pastor protestante, conseguiu aos 15 anos o emprego de empacotador e despachante de livros na cidade de Haia, numa filial da prestigiada galeria Goupil, de Paris. Ali, manteve seus primeiros contatos com a arte e com artistas.

     Foi transferido para a filial de Bruxelas e, em seguida, para a de Londres. Mas, após ser rejeitado por uma jovem inglesa pela qual se apaixonara, caiu em depressão, buscou refúgio espiritual na religião e acabou demitido. A partir de então, passou a ter uma existência mística e errante. Alternou empregos subalternos, viveu como vagabundo e foi pregar o Evangelho para camponeses e mineradores no interior da Bélgica.

     Em 1880, enfim, trocou a fé pela arte. Mas a sua inquietação existencial continuou, ainda mais intensa.

    Apaixonou-se novamente, desta vez por uma prima, que também recusou-lhe o seu amor. Em 1882, conheceu a prostituta Christine Sien, grávida e alcoólatra, com quem passou a viver durante alguns meses, até que a convivência entre os dois se tornou insuportável. Nesse período, os quadros de van Gogh ainda possuíam cores e tons predominantemente escuros.

     Após a morte do pai, em 1885, o artista nunca mais retornaria a Holanda. Fixou-se inicialmente na Antuérpia e, depois, decidiu ir a Paris, onde passou dois anos e descobriu a pintura luminosa dos impressionistas. "O ar francês limpa o cérebro e faz bem", escreveu à época, antes de decepcionar-se com a rivalidade entre os artistas locais e a vida agitada da cidade grande.

      Foi na pequena e ensolarada aldeia francesa de Arles que a pintura de Vincent van Gogh encontrou o cenário ideal para dar o grande salto artístico, a partir de 1888, apenas dois anos antes de sua morte. As cores - sobretudo o amarelo - explodiram com intensidade nas telas, mas o deslumbramento e a obsessão pelo trabalho minaram-lhe a saúde física e mental.

      Em Arles, pintou cerca de 200 quadros e fez 100 desenhos. Ficou esgotado e foi internado em um asilo, após uma série de colapsos nervosos. Em um deles, investiu contra o colega Paul Gauguin, armado com uma navalha. Terminou por decepar a própria orelha, que presenteou a uma prostituta.

      Em meados de 1890, aos 37 anos, viajou para a cidade francesa de Auvers-sur-Oise, para tentar descansar e recuperar a saúde. O médico recomendou-lhe a pintura como terapia. No dia 27 de julho, saiu em direção a um trigal, igual a tantos outros que já pintara. Mas não levava telas e pincéis, e sim uma pistola. Voltou a arma contra o próprio peito e apertou o gatilho. Não resistiu ao ferimento. Morreu por volta de uma e meia da manhã do dia 29.

      No início daquele ano, recebera uma boa notícia: finalmente um trabalho seu, o quadro "A videira vermelha", conseguira encontrar comprador.

Curiosidades

•    Cartas a Theo:Ao longo da vida, Vincent van Gogh escreveu mais de 750 cartas ao irmão, Theodore, quatro anos mais novo, mas por quem foi sustentado durante longos períodos. Nesses escritos, discorre longamente sobre seu processo criativo, sobre seu relacionamento com o irmão e amigos e sobre o avanço progressivo da loucura. A extensa e emocionada correspondência seria mais tarde reunida em livro, Cartas a Theo. No Brasil, existe uma edição de bolso da obra, editada pela L&PM.

•    O missionário:Em 1878, Vincent van Gogh tentou ingressar em um curso de teologia em Amsterdã. Pretendia seguir a mesma carreira do pai e do avô, pastores protestantes, mas foi reprovado nos exames de admissão. Não desistiu: fez um curso livre em Laeken, próximo a Bruxelas e depois mudou-se para um pequeno distrito, cujos moradores viviam do trabalho extenuante em uma mina de carvão. Como missionário, passou por várias privações, dormindo no chão e tratando de doentes incuráveis.

•    Prova de fogo:Uma das muitas paixões não-correspondidas de Vincent van Gogh foi a que nutriu pela prima, Kee Vos-Stricker, que era viúva e mantinha-se fiel à memória do marido morto. Para provar a intensidade de seu amor, Vincent submeteu-se, literalmente, a uma prova de fogo: deixou a mão sobre a chama de uma lamparina até queimá-la. A prima não se comoveu.

•    Desavenças com Gauguin:Quando mudou-se para Arles, Vincent van Gogh convidou Paul Gauguin para morar com ele naquela cidade do sul da França. Pretendia fundar, ao lado do colega, uma espécie de "colônia de artistas". O curto período em que estiveram juntos foi de grande importância para a obra posterior dos dois artistas. Mas as diferenças estéticas e as diferenças de temperamento entre os dois terminaram por provocar crises nervosas em van Gogh, que se revoltou, quis agredir Gauguin e acabou por se agredir, cortando um pedaço de sua orelha. Gauguin com intenções simbolistas pintava de memória, enquanto van Gogh fazia questão de pintar diante da natureza.

•    À luz de velas:Van Gogh pintava também à noite, no campo, ao ar livre. Para iluminar o cavalete, as tintas e os pincéis, o artista lançava mão de um singular estratagema: colocava uma fileira de velas acesas sobre a aba do chapéu.

•    Arte no sanatório:Após a temporada em Arles, o artista foi internado em um hospital em Saint-Remi-de-Provence. As obras deste período mostram ciprestes eriçados e céus turbulentos. É desta época a sua interpretação da gravura de Doret "A ronda dos prisioneiros", na qual se identifica e se retrata entre os prisioneiros.

•    Milhões de dólares:Como não tinha dinheiro para pagar modelos, Vincent van Gogh convidava amigos e conhecidos para pintar-lhes os retratos. Foram assim que surgiram algumas de suas obras mais célebres, como o "Retrato do Dr. Gachet" - Paul Gachet foi o médico que tratou dele nos últimos momentos de vida. Um século depois, em 1990, o quadro foi leiloado por mais de 80 milhões de dólares.

•    Nas telas do cinema:A vida atormentada de van Gogh tem sido um tema fértil para o cinema. Um dos grandes filmes sobre a vida do artista é Sede de viver, dirigido por Vincent Minelli, de 1956, com o ator Kirk Douglas no papel principal. O cineasta japonês Akira Kurosawa também o retratou em um dos episódios do filme Sonhos, de 1990. No mesmo ano, Robert Altman filmou Van Gogh - Vida e obra de um gênio. Em 1991, o francês Maurice Pialat, em Van Gogh, abordou os meses finais da existência turbulenta do pintor.

Contexto histórico - Sob o signo da paixão

      A rigor, a obra de Vincent van Gogh não pertence a nenhuma corrente artística específica. Na falta de uma classificação mais precisa, costuma-se incluí-la no rótulo genérico do pós-impressionismo, termo criado posteriormente para definir um grupo de artistas, de diferentes estilos e tendências, surgidos no final do século 19. Ao provocar uma ruptura com seus antecessores, anteciparam alguns pressupostos da arte moderna do século 20.

       O impressionismo originara-se em Paris, entre 1860 e 1870. A invenção e a popularização crescente da fotografia impuseram aos artistas um dilema incontornável: qual a função que restava à pintura, se o novo invento era capaz de retratar o "real" com a maior fidelidade possível? Como solução para o problema, os impressionistas propunham que as artes plásticas, em vez de sucumbir diante do advento da fotografia, deveria superar a fase realista e se concentrar em formas subjetivas de captar o mundo, dando ênfase à luz e ao movimento.

       Os primeiros trabalhos de van Gogh, feitos ainda na Holanda, revelavam uma forte preocupação social ao retratar, com tons sombrios e monocromáticos, a vida miserável dos camponeses, em um momento em que a Revolução Industrial modificava a vida nas grandes cidades e provocava uma onda de pauperização extrema na zona rural.

         Em Paris, ao entrar em contato com os impressionistas, van Gogh deixou de lado as cores escuras e passou a explorar a luminosidade e um cromatismo intenso. Mas sua arte não se submeteria aos princípios seguidos pelos colegas parisienses. Na verdade, levaria o impressionismo às últimas conseqüências, radicalizando a experiência de representação subjetiva da realidade.

        As pinceladas rápidas e enérgicas, as formas contorcidas e uso de cores primárias conferiam às telas uma dramaticidade única e revelavam a alma atormentada do artista. Van Gogh antecipava assim algumas características básicas do expressionismo, escola que romperá de vez com os padrões tradicionais de beleza. "Procuro exprimir as mais terríveis paixões humanas. Quero pintar o retrato das pessoas como eu as sinto e não como eu as vejo", dizia o artista.

 Sites relacionados

•    Museu Van Gogh - Site oficial do Museu Van Gogh, em Amsterdã, inaugurado em 1973. Contém biografia, fotos e reprodução de obras. Textos disponíveis em holandês, inglês, espanhol, italiano, alemão e japonês.

•    Masp - Aqui podem ser conferidas as obras de Vincent van Gogh que fazem parte do acervo do Museu de Arte de São Paulo, o Masp.

•    Van Gogh Gallery - Página em inglês, com muitas informações sobre o artista, incluindo biografia, cronologia e lista das principais obras, além de downloads de proteções de telas para computador.

•    WebMuseum - O site traz reproduções de dezenas de quadros de van Gogh.

•    Van Gogh's Letters - Site com cartas escritas por Van Gogh, catalogadas por data e assunto, com recurso adicional de busca por palavras. Em inglês.

•    The Vincent van Gogh Gallery - Site em ingles sob responsabilidade de David Brooks, com 2.174 obras listadas e comentadas, entre desenhos, e pinturas.

•    Website Van Gogh & Gauguin - O site é do Museu van Gogh de Amsterdam e fala da relação entre os dois , mostra os quadros produzidos neste período, correspondências e críticas.

 Principais obras

•    1. Os comedores de batatas (1885) - O quadro mais famoso da primeira fase do artista. Retrata trabalhadores em torno de uma mesa, pintados em tons sombrios.



•    2. Quarto em Arles (1888) - Pinceladas firmes e cores fortes são usadas para retratar o quarto de van Gogh em Arles, cidade que marcou sua reviravolta artística. Existem mais duas versões desta obra realizadas em 1889.



•    3. Doze girassóis numa jarra (1889) - Um dos mais conhecidos quadros da série de girassóis que van Gogh começou a pintar em Arles. Hoje está entre as obras mais valiosas do mundo.



•    4. Auto-retratos (1886-1890) - Van Gogh pintou trinta e cinco entre 1886 e 1889. Um dos mais famosos eternizou o episódio em que cortou a própria orelha: "Auto-retrato com orelha enfaixada", de 1889.

 


•    5. Noite Estrelada (1889) - Um dos quadros mais reproduzidos de van Gogh em todo o mundo, pintado em Saint-Remy-de-Provence.


 
•    6. Retrato do Dr. Gachet (1890) - Pintado nos últimos meses de vida do artista, mostra o médico que cuidou dele em Auvers-sur-Oise e que o socorreu após o tiro no peito que o levaria à morte.



Fonte:
 Texto :
Grandes Mestres

Imagens:

Entre Culturas 
Kavorka

C1
Lu Amatnecks

Orelhas perdidas




quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

GRANDES MESTRES - Claude Monet

Biografia 
O mais dedicado impressionista


 Claude Monet (1840-1926)

     Seu pai almejava vê-lo dando continuidade ao comércio da família, um empório de secos e molhados. Ao invés disso, Claude Monet tornou-se o precursor de um movimento artístico inovador e cujo nome, "Impressionismo", começou a ser usado após uma crítica pejorativa ao seu "Impressão, Sol Levante", quadro exibido em 1872 em conjunto com obras de Renoir, Degas e Cézanne, todos amigos seus.

     Apesar de ter nascido em Paris, em 1840, Oscar-Claude Monet cresceu na cidade portuária de Havre, onde travou seu primeiro contato com a pintura através de Eugène Boudin, que lhe estimulou a trabalhar ao ar livre e sob a luz do sol, procedimento que seria fundamental no desenvolvimento de sua técnica e estilo.

       Aos 19 anos Monet volta a viver em Paris, com o objetivo de estudar pintura. Apesar do desejo do pai de vê-lo na tradicional Escola de Belas Artes, opta por ingressar no Atelier Suisse, cuja postura mais livre combinava com sua personalidade. Apesar de apreciar o desenho, Monet não concordava com a tradição acadêmica de se fazer e ensinar arte nas escolas mais tradicionais. E é nesse ambiente que viria a conhecer Camille Pissaro, através de quem seria introduzido ao círculo de Manet, Coubert e outros artistas de idéias vanguardistas.

      Em 1861 é enviado à Argélia, convocado para defender a França na guerra. Cerca de um ano depois, contando com a ajuda da tia, retorna a Paris, dando continuidade às suas "pesquisas" ao ar livre. Nessas ocasiões, costumava se encontrar com amigos artistas no estúdio de algum deles, partindo dali para bosques e campos próximos, onde passavam o dia pintando paisagens e as mudanças de tons e sombras causadas pelo movimento do sol.

      Logo Monet conheceria a jovem Camille Doncieux, que inicialmente trabalhava como modelo e acabou se tornando sua esposa. Juntos tiveram dois filhos, mas oficializaram a união somente após três anos juntos. Os primeiros tempos ao lado de Camille foram de extremo aperto financeiro. O pintor relutava em mudar seu estilo de pintar, e desse modo encontrava dificuldades para vender seus quadros. Somente depois de iniciada a Guerra Franco-Prussiana (1870), quando de sua "fuga" para Londres, que a vida de Monet começaria a melhorar.

       Na Inglaterra conhece o marchand Paul Durand-Ruel, que passa a apoiar os impressionistas e a adquirir obras do grupo. Voltando à França, em 1871, vive em Argenteuil e depois em Vétheuil, dando início ao período mais fértil de sua vida. Torna-se amigo do casal Alice e Ernest Hoschedé, milionários admiradores de seu trabalho. Mais do que isso, Monet e Alice viriam a se casar, após ambos ficarem viúvos.

        Finalmente, a mudança para Giverny: em 1883, junto da nova esposa e dos sete filhos (dois dele e cinco dela), Monet passa a viver em seu pequeno paraíso, onde construiu o lago que receberia seus famosos nenúfares, ninféias e a ponte japonesa. Lá, realizaria suas fantásticas séries de pinturas, onde os objetos que se repetiam não importavam muito: a impressão de cada momento causada ao pintor, fosse pela luz do sol, pelas sombras, reflexos ou vento, era o principal elemento transportado para as telas. Monet viveu até os 86 anos, e está enterrado no jardim de sua propriedade.

Curiosidades

•    Monet caricaturista:Ainda adolescente e morando em Havres, uma das primeiras atividades desenvolvidas pelo então jovem artista era fazer caricaturas dos locais para ganhar uns trocados. Monet não gostava de ir à escola, e estava sempre desenhando em seus cadernos. Sua atividade como caricaturista lhe valeu uma certa notoriedade, e ele passou a expor os trabalhos na loja onde comprava suas tintas e pincéis. Foi ali que conheceu o pintor Boudin, sua primeira grande influência.

•    De rio a lagoa:Em 1893, três anos depois de ter comprado a propriedade em Giverny, Monet anexou a ela um terreno que ficava nos fundos da casa. Após alguns trâmites legais conseguiu autorização para desviar um braço do rio Ru, que passava próximo à propriedade, e assim formar um pequeno lago em seu "quintal". Apaixonado pela jardinagem, Monet passou a criar flores e plantas aquáticas, e providenciou a construção de uma charmosa ponte japonesa. "Talvez eu deva às flores o fato de ter-me tornado pintor", afirmava.

•    As 50 catedrais:Durante o período passado em Rouen, instalado numa sobreloja que lhe propiciava uma magnífica visão da catedral, Monet pintou nada menos que 50 telas onde a edificação era o tema. Dentre elas, destaca-se a série de 18 telas retratando a fachada da igreja, todas vistas do mesmo ângulo. As mudanças causadas na fachada pela luz do sol, desde a hora em que nascia até o crepúsculo, eram captadas pelo aguçado olhar do pintor, que demonstrava toda sua técnica e sensibilidade ao realizar telas onde, em suas próprias palavras, "o tema é uma coisa secundária; o que eu quero reproduzir é o que existe entre ele (o tema) e eu".

•    Monet no Brasil:Em 1997 o Masp (Museu de Arte de São Paulo) realizou uma grande exposição dedicada a Claude Monet. A maioria das telas expostas era da última fase da vida do artista, isto é, trabalhos feitos em Giverny, onde ninféias e nenúfares eram "temas" recorrentes, sob as mais variadas luzes e tons. A exposição trazia 23 telas, reproduções de trabalhos importantes do pintor e uma sala dedicada às crianças, e fez um enorme sucesso, passando também pelo Rio de Janeiro.

•    Giverny para todos:Michel Monet, filho do pintor, legou em 1966 (ano de sua morte) à Academia de Belas Artes francesa a propriedade de Giverny, onde seu pai viveu por 43 anos. Em mau estado de conservação e com os jardins abandonados, a restauração do local só começaria 11 anos depois. Hoje é um lugar bastante visitado por turistas de todo o mundo, e tanto os belos jardins quanto o lago e a casa voltaram a seu aspecto original, com muitas flores, pássaros e toda a atmosfera conhecida através dos quadros do artista.

Contexto histórico - Como captar o "momento"

      Podemos chamá-lo, sem medo, de "líder" do Impressionismo. Seja porque foi um quadro seu que deu nome ao movimento, seja porque Monet era um homem de extrema sensibilidade e determinação, que sabia que estava por desenvolver uma nova maneira de representar a luz, de usar as cores e de, magistralmente, captar impressões de momentos únicos, como que aprisionando uma cena que jamais seria vista novamente daquela maneira, com aquelas tonalidades.

      Seu estilo único de pintar, com pinceladas diluídas e esparsas, demonstrava um incrível apuro técnico, já que o artista conseguia passar noções ("impressões") de luz e movimento tocando a superfície da tela poucas e precisas vezes com o pincel. Reproduzir suas próprias impressões diante de efeitos extremamente fugazes era seu maior objetivo. Seu colega, Paul Cézanne, chegou a descrevê-lo como "meramente um olho, mas, por Deus, que olho!", dada sua capacidade para captar, processar e transportar momentos efêmeros para as telas.

      Movimentos estéticos do século XX como o Abstracionismo teriam na obra dos impressionistas, em especial na maneira de pintar de Monet, uma importante fonte de inspiração.

      Claude Monet passou por três guerras importantes na história da França: primeiramente sendo enviado para lutar na Argélia, que era então uma colônia francesa. Depois, em 1870, temendo ser convocado para lutar na Guerra Franco-Prussiana, foge com a esposa e o filho para a Inglaterra (a França sairia perdedora, pondo fim ao Imperialismo e dando início à República). Finalmente, a 1ª Guerra Mundial, já que o pintor morreu somente em 1927.

Sites relacionados

•    Folha Online - Textos sobre Monet, o Impressionismo e a exposição, realizada pelo Masp em 1997.

•    Giverny Vernon - Este é o portal dedicado ao vilarejo de Giverny, na França. Traz informações turísticas e textos sobre Monet. Em inglês e francês.

•    ArtCyclopedia - Indica, através de links, museus de todo o mundo que possuem obras de Monet (em inglês).

•    The Artchive - Também em inglês, traz bons textos sobre vida e obra de Monet, sobre o Impressionismo e seus expoentes.

•    TCI Art - Esta em português, contém biografia, perspectiva histórica e obras selecionadas do pintor.

 Principais obras

•    1. "A Catedral de Rouen em Pleno Sol" (1894) - Uma das visões mais belas da catedral (entre uma série de 18), que parece derreter sob tanta luz.



•    2. "Ninféias" (1916-26) - Da série de ninféias do fim da vida de Monet, cuja visão, assim como as telas, parecia diluída e desfocada.



•    3. "Regata em Argenteuil" (1872) - Atenção às pinceladas que formam a água e os reflexos, de técnica extremamente arrojada e precisa.



•    4. "Impressão, Sol Levante" (1872) - Um marco. De seu título saiu o nome do movimento. Obra de pinceladas rápidas e sutis.



•    5. "Casas do Parlamento, Londres" (1905) - O céu, o Parlamento e o Tamisa formam um conjunto sóbrio e impactante.

 Fonte:
Texto: Grandes Mestres
Imagens 7 das artes
 Falar sobre arte


GRANDES MESTRES - Henri Matisse

Biografia 
O esteta da simplicidade e da cor

 Caricatura do pintor francês Henri Matisse(1869-1954) . Acrílico sobre papel.


    Aos 19 anos de idade, estudante de Direito em Paris, Henri Matisse dividia seu tempo entre o trabalho vespertino de escriturário em uma firma de advocacia e, pela manhã, as aulas em uma escola de desenho. Foi quando uma crise de apendicite o deixou um longo tempo preso à cama e assim, afastado do trabalho burocrático, começou a se dedicar com mais afinco à pintura. "Antes, o cotidiano me aborrecia. Ao pintar, passei a sentir-me gloriosamente livre e tranqüilo", ele dizia.

      Henri Emile Bernoit Matisse nasceu no último dia do ano de 1869, em Le Cateau, no norte da França. Era filho de um farmacêutico e comerciante de grãos, que sonhava em fazer do filho um próspero advogado. Contudo, Matisse preferiu abandonar a carreira jurídica e dedicar-se integralmente à pintura. Enquanto freqüentava como ouvinte a Escola de Belas-Artes, em Paris, ia ao Louvre para copiar os quadros de grandes mestres ali expostos.

      No começo, tudo parecia ir bem. Matisse teve quatro obras expostas no Salão da Sociedade Nacional de Belas Artes e foi convidado para ser membro associado da entidade. Contudo, seu flerte inicial com a estética impressionista contrariou as expectativas da parcela mais conservadora da crítica e ele passou a encontrar dificuldades em divulgar seu trabalho.

      A situação se radicalizou quando participou do célebre Salão de Outono de 1905, em Paris, ao lado de Albert Marquet, Maurice Vlaminck e André Derain, que rejeitavam a paleta suave dos impressionistas e aderiram às cores fortes e aos traços expressivos, próximos aos de Vincent van Gogh e Paul Gauguin. A crítica detestou e reagiu com violência.

      Matisse e seus colegas foram então chamados de "fauves", numa livre tradução, "bestas selvagens". Daí surgiu o termo "fauvismo", utilizado inicialmente de forma pejorativa, para definir o movimento, de duração efêmera.
       Porém, o escândalo e a controvérsia ajudaram a divulgar o nome de Matisse e a aproximá-lo de marchands mais esclarecidos e das vanguardas estéticas de seu tempo. O artista passou a vender um quadro atrás do outro e a fazer viagens pela Europa, África e Ásia, onde manteve contato com novas influências que se refletiram em seu trabalho, desde a tapeçaria oriental aos arabescos da arte islâmica.

       Mas foi na luminosa cidade de Nice, na Riviera Francesa, com suas construções brancas e o mar azul do Mediterrâneo ao fundo, que Henri Matisse encontrou seu principal refúgio. Distanciado cada vez mais dos arroubos fauvistas, o artista buscava a harmonia e a paz de espírito. "Sonho com uma arte do equilíbrio, pureza e serenidade, isenta de temas inquietantes e perturbadores", dizia. "Quero que minha arte seja como uma boa poltrona em que se descansa o corpo cansado".

         Em 1941, combalido por um câncer no intestino, Matisse foi submetido a duas cirurgias, que lhe tolheram os movimentos e o deixaram em uma cadeira de rodas. Foi nesse período que passou a trabalhar mais intensamente com uma técnica que desenvolvera desde 1937: a aplicação de tinta em papel recortado, os famosos gouaches découpées, que serviriam para ilustrar seu livro Jazz, de 1947. As fotos desta época mostram Matisse em seu quarto de hotel, com tesoura na mão e pilhas de papel colorido no chão.

        Cada vez mais recluso, cercado de plantas e de pássaros que criava livremente no quarto, Henri Matisse viveu até 1954. Seu último trabalho foi o projeto de decoração de uma pequena capela na cidade montanhesa de Vence. Para a construção, despojada e banhada de sol, desenhou vitrais azulados e murais com finos traços negros sobre azulejos brancos. Considerava ter atingido ali a plenitude da simplicidade, sua obra-prima.

Curiosidades

•    Tempos bicudos:Henri Matisse casou em 1898, com Amélie Parayre, que ajudou o marido servindo-lhe de modelo e confeccionando chapéus para complementar a renda familiar. A situação financeira do casal nos primeiros anos após o casamento era crítica, ao ponto de Matisse ter que recorrer ao emprego de assistente de cenógrafo, encarregado de pintar folhas de louro para a decoração do pavilhão onde seria realizada Exposição Universal de 1900.

•    Uma ajuda providencial:Uma das primeiras pessoas a acreditar no talento de Henri Matisse foi a escritora Gertrude Stein. Colecionadora de arte, ela comprou vários quadros do início de carreira de Matisse. Foi ela também quem o apresentou a muitos marchands parisienses, o que ajudou a divulgar o nome de Matisse entre as principais galerias da capital francesa.

•    Ilustrador de James Joyce:Matisse foi também um exímio ilustrador. Entre seus trabalhos no gênero, destacam-se as gravuras que fez para uma edição de Flores do Mal, do poeta Baudelaire, e para o romance Ulysses, de James Joyce. Em 1937, também desenhou os cenários e os figurinos para uma montagem teatral de O Vermelho e o Negro, de Stendhal.

•    Pintando na cama:Quando caiu enfermo, vitimado pelo câncer, Matisse continuou a pintar, embora passasse bom tempo na cama. Ele fixava pontas de carvão na extremidade de longas varas e, com elas, rabiscava as paredes e o teto de sua suíte no hotel Régina, em Nice.

•    Duelo de gigantes:Picasso e Matisse nutriram uma convivência baseada na competição e, ao mesmo tempo, na admiração mútua. Ambos conquistaram fãs arrebatados e radicais no mundo das artes. "Picassistas" e "matissistas" chegavam a trocar ofensas e defendiam de forma ardorosa a suposta supremacia de seu respectivo ídolo. "Ninguém nunca olhou tão atentamente para meu trabalho quanto Picasso, nem tão atentamente ao trabalho dele como eu", ponderava o próprio Matisse.

Contexto histórico - Ombro a ombro com picasso

     Matisse é considerado por muitos críticos e historiadores da arte, junto com Pablo Picasso, o pintor mais importante e revolucionário do século 20. Uma de suas maiores inovações foi libertar a cor do caráter naturalista. Em 1905, por exemplo, ao pintar o retrato de sua esposa, pôs uma sombra verde no meio do rosto dela. "Quando pinto um verde, não significa dizer grama; quando pinto um azul, não quer dizer céu", observava.

    É curioso notar que a obra de Matisse, ao contrário da de Picasso, não absorveu nenhum dos grandes momentos de tensão da história européia na primeira metade do século passado. Durante a Primeira Guerra Mundial, após não conseguir se alistar por que já havia passado da idade máxima permitida para o recrutamento, praticamente deixou de pintar, preferindo dedicar-se ao estudo do violino. Quando estourou a Segunda Guerra, já estava muito mais atormentado com a própria saúde, lamentando ter que deixar Nice por causa do avanço das tropas inimigas.

     As obras iniciais de Matisse, sobretudo "Luxo, Calma e Volúpia", de 1904, com suas pinceladas isoladas, ainda são tributárias do neo-impressionismo, embora já anunciasse uma simplificação dos traços e dos volumes. Com o tempo, sua pintura evoluirá para uma crescente busca pela pureza da forma, da linha e das cores, o que atingirá seu ponto máximo nos gouaches découpées, os trabalhos de colagem com papel recortado.

     O crítico italiano Giulio Carlo Argan afirmava que a obra de Henri Matisse era, de certo modo, uma resposta negativa ao cubismo. "Ao cubismo, que analisa racionalmente o objeto, ele contrapõe a intuição sintética do todo". Em uma das obras mais famosas do artista, "A Dança", no qual cinco figuras humanas se alongam e dançam de mãos dadas, Argan vê a suprema realização do objetivo central da trajetória artística de Matisse: expressar a máxima complexidade por meio de uma enorme simplicidade.

Sites  relacionados

•    Museu Matisse - Site com reprodução de inúmeros desenhos e telas do artista. Em inglês e francês.
•    Masp - Conheça a obra "O Torso de Gesso", que pertence ao acervo do Museu de Arte de São Paulo.
•    Henri Matisse Art Gallery - Galeria virtual, com muitas obras de Matisse, organizadas por ordem alfabética. Em inglês.
•    WebMuseum - Dados biográficos e reproduções ampliáveis de muitos quadros de Matisse. Em inglês.
•    ArtCyclopedia - Localização das principais obras do artista, em museus e galerias espalhadas pelo mundo. Em inglês.

Principais obras

1. Luxo, Calma e Volúpia (1904) - O quadro pertence à uma das primeiras fases de Matisse, ainda fortemente influenciado pelo neo-impressionismo.



2. A Janela Aberta (1905) - Exposto no Salão de Outono, que deu origem ao nome "fauvismo"



3. Madame Matisse (1905) - O abandono do uso naturalista da cor. O quadro também é conhecido como "Retrato com Listra Verde".

 

4. A Dança (1909-1910) - Uma das realizações mais notáveis de Matisse, que expressa vigor e leveza ao mesmo tempo.



5. Interior vermelho (1947) - Um dos mais expressivos dos inúmeros quadros com cenas de interiores de casas pintadas por Matisse.


6. Jazz (1947) - Série de 20 gravuras feitas em papel recortado, técnica que marcaria os últimos trabalhos do artista.


Fonte:

Texto : Grandes Mestres Folha

Imagens: 7 das artes

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

GRANDES MESTRES - Diego Velázquez

Biografia 
Existência tranqüila, talento nato

      A maior marca deixada pelo artista espanhol Velázquez foi seu dom em propiciar dignidade e decência a todos os personagens que retratava, fossem eles reis, mulheres, crianças ou mesmo anões e bufões.

      Diego Rodríguez de Silva y Velázquez era filho de nobres e nasceu em junho de 1599 em Sevilha, na época a cidade mais rica da Espanha devido ao seu movimentado porto. Incentivado pelo pai, estudou nas melhores escolas e, já aos 12 anos, iniciava os estudos em pintura, primeiro com Francesco de Herrera, conhecido como "el Viejo", e depois com Francisco Pacheco, que viria a ser seu sogro.

      Precoce ao demonstrar talento para as artes, Velázquez mudou-se para Madri ainda muito jovem e, aos 24 anos, já assumia o cargo de pintor oficial da corte do rei Filipe IV. Ocuparia a função até o fim da vida, o que lhe daria condições de viajar e trabalhar com tranqüilidade.

      Em 1628 tornou-se amigo do pintor holandês Rubens, que visitava Madri. Juntos, trocaram idéias sobre trabalhos do Renascimento italiano e conversaram sobre mitologia, o que aumentou o desejo de Velázquez de conhecer a Itália, terra de pintores que exerceram grande influência sobre ele, como Caravaggio, Ticiano, Tintoretto e Veronese.

      Filipe IV lhe deu permissão para viajar e, em 1629, Velázquez foi à Itália, passando por cidades como Gênova e Veneza até chegar a Roma, onde ficou por cerca de um ano. Seguiu depois para Nápoles, na época uma possessão espanhola. Especula-se que o artista tenha pintado muitas obras nesse período, mas apenas duas chegaram aos dias de hoje: "A Túnica de José" e "A Forja de Vulcano". Um Velázquez ainda mais influenciado pelos renascentistas e pela arte clássica retornou a Madri em 1631, iniciando sua fase de maior produtividade.

      Homem de vida tranqüila e comedida, Velázquez pintava com calma e lentidão, já que, por ser membro da corte real, era obrigado também a cumprir funções burocráticas. De temperamento suave, levou uma vida sem grandes reviravoltas e de produção artística relativamente pequena: menos de 150 telas suas chegaram aos nossos dias. Calcula-se, porém, que tenha pintado não mais que 200 quadros ao longo da vida, dado seu ritmo compassado. Morreu em julho de 1660, em Madri, aos 61 anos de idade. Exatamente uma semana depois morria Juana, a filha de seu mestre Pacheco, com quem se casara aos 19 anos.

Curiosidades

•    "Seguidores":"As Meninas", o trabalho mais conhecido de Velázquez, teve 44 versões feitas por Pablo Picasso. Já o pintor Goya, também espanhol, homenageou Velázquez colocando-se na obra "A Família de Carlos IV" (1800), e na mesma posição: também à esquerda, pintando um quadro. O pintor Francis Bacon, na década de 1950, fez várias versões a partir do quadro "Retrato do Papa Inocêncio X".

•    Romance na Itália:Apesar da vida recatada e tranqüila de Velázquez, um documento descoberto em 1983 revelou que uma viúva chamada Marta teria dado à luz um filho ilegítimo do artista: uma criança de colo chamada Antonio é citada no ano de 1652 (quando Velázquez tinha 53 anos).

•    Relações cruzadas:Francisco Pacheco, mestre de Velázquez durante seis anos e pai de sua esposa, é também autor do tratado Arte de la Pintura, escrito em 1649. Velázquez foi seu aprendiz dos 11 aos 17 anos, e casou-se com Juana aos 19 (ela tinha 17). Tiveram duas filhas. À época do casamento, o mestre escreveu: "Casei-o com minha filha movido por sua virtude e integridade, seus dotes e pelas promessas de um grande e inato talento".

•    Honrarias:Em 1652 Velázquez foi nomeado para o mais honroso dos cargos a que um pintor poderia chegar: "Aposentador Mayor", ou tesoureiro do rei. Porém, seu maior título alcançado foi o de Cavaleiro da Ordem de Santiago, em 1659, pouco antes de morrer. O rei Filipe IV teve que obter uma permissão especial do papa Alexandre VII para conceder a honraria ao artista. No quadro "As Meninas", Velázquez ostenta no peito a cruz vermelha característica da ordem.

Contexto histórico - Antecipando tendências

       Velázquez nasce no último ano do século 16, período em que a Espanha havia se tornado a nação mais rica da Europa graças às suas colônias no Novo Mundo. O barroco era o estilo predominante, com seus contrastes de luzes e sombras, cores escuras e carregadas. Temas religiosos ainda eram os mais representados e Velázquez, apesar de ter feito quadros com essa temática, ficaria mais famoso por sua magnífica habilidade em pintar retratos.

       Antecipando técnicas da Arte Moderna que seriam desenvolvidas por impressionistas como Manet, Renoir e Monet, o pintor sevilhano era um mestre em representar cenas e figuras que, vistas de perto, não diziam muito, por causa de suas pinceladas livres e cruas, transparentes e borradas. Porém, quando olhadas de uma certa distância, seus detalhes ganham uma dimensão e beleza impressionantes. O "todo" só é apreendido quando visto de longe, evidenciando o talento e habilidade do pintor.

      É possível afirmar, inclusive, que sua maneira realista de representação constituía, na verdade, um "falso realismo": baseava-se somente na luz refletida pelas pessoas e objetos, quadros feitos sem esboços, sem linhas e marcações previamente desenhadas e com leves toques de pincel. Daí a dificuldade em "entendê-las" olhando muito de perto. Os impressionistas, já no século 19, ficariam conhecidos exatamente por isso: reproduziam as paisagens de acordo com a luz que incidia sobre elas, fazendo uso de pinceladas soltas, pouco precisas.

     Diego Velázquez trabalhou para o rei Filipe IV por 37 anos. Ao tornar-se pintor oficial da corte, o rei tinha apenas 18 anos. Durante as viagens do artista à Itália, a família real não permitia que nenhum outro pintor fizesse retratos seus: esperavam até que Velázquez retornasse. À época de sua morte, o rei lhe proporcionou um magnífico funeral. E o império espanhol, em 1660, já dava indícios de sua decadência: era o início do fim de seu período áureo.

Sites relacionados

•    Museu do Prado - Página oficial do museu, localizado em Madri. É o maior detentor de obras de Velázquez. Em inglês e espanhol.

•    Tierra - Também em espanhol, este site de cultura traz um texto sobre a vida e a obra de Velázquez.

•    Museu de Arte Virtual CGFA - Oferece biografia e imagens ampliáveis das obras mais importantes do artista.

•    Revista Autor - Texto sobre o estilo do pintor, publicado nesta revista virtual de cultura.


Principais obras
   
•    1. "As Meninas" (1656) - Também chamado de "As Damas de Honra", é considerado seu trabalho mais equilibrado e inovador.



•    2. "A Rendição de Breda" ou "As Lanças" (1634-35) - De proporções perfeitas, está entre seus melhores trabalhos.



•    3. "Retrato do Papa Inocêncio X" (1650) - A posição do papa foi baseada num retrato do papa Paulo III feito por Ticiano.



•    4. "Vênus ao Espelho" (cerca de 1648) - Único nu remanescente de Velázquez (é sabido que ele pintou outros).



•    5. "As Fiandeiras" (1657) - A tapeçaria ao fundo ilustra uma disputa entre a deusa Atenas e Aracne, transformada em aranha após perder.



Fontes:

Imagens - 7 das artes 
Texto: Grandes Mestres Folha